(A Filinto de
Almeida)
Desmaia a tarde. Além, pouco a
pouco, no poente,
O sol, rei fatigado, em seu leito
adormece:
Uma ave canta, ao longe; o ar
pesado adormece:
Do Ângelus ao soluço agoniado e
plangente.
Salmos cheios de dor, impregnados
de prece,
Sobem da terra ao céu numa
ascensão ardente.
E enquanto o vento chora e o
crepúsculo desce,
A ave-maria vai cantando,
tristemente.
Nest′hora, muita vez, em que fala
a saudade
Pela boca da noite e pelo som que
passa,
Lausperene de amor cuja mágoa me
invade,
Quisera ser o som, ser a noite,
ébria e douda
De trevas, o silêncio, esta nuvem
que esvoaça,
Ou fundir-me na luz e desfazer-me
toda.
(Esfinges, 1903.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário