CONTA E TEMPO
Laurindo Rabelo
Deus
pede estrita conta do meu tempo;
é
forçoso do tempo já dar conta;
mas
como dar, sem tempo, tanta conta,
eu
que gastei, sem conta, tanto tempo?
Para
ter minha conta feita a tempo,
dado
me foi bem tempo e não fiz conta.
Não
quis, sobrando tempo, fazer conta;
quero
hoje fazer conta, e falta tempo.
Ó
vos, que tendes tempo sem ter conta,
não
gasteis vosso tempo em passatempo,
cuidai,
enquanto é tempo, em fazer conta.
Ah!
Se aqueles que contam com seu tempo
fizessem
desse tempo alguma conta,
não
choravam como eu, o não ter tempo...
Baseado neste famoso soneto, escrevi um no mesmo estilo:
VIDA E
MORTE
Por certo existe vida após
a morte,
e todo ser da morte torna à
vida.
A vida amadurece para a
morte;
da semente da morte brota a
vida.
Em vida caminhamos para a
morte,
sem saber que na morte há
muita vida.
Em nossa curta vida há
tanta morte,
e existem mortes que nos
dão mais vida.
Em nossa eterna vida não há
morte:
se toda morte anseia pela
vida,
a vida se transcende pela
morte.
E nesta dualidade
morte-vida,
que a vida nos prepare para
a morte,
e toda morte seja bem
vivida!...