terça-feira, 30 de junho de 2015

Los Muertos - Ruben Dario

LOS  MUERTOS

Rubem Dario
(Poeta nicaragüense)
(1867-1916)

No son los muertos los que en dulce calma
La paz disfrutam de la tumba fria;
Muertos son los que tienem muerto el alma;
Y viven todavia.

No son los muertos no los que riciben
Rayos de luz en sus depoyos yertos;
Los que mueren con honra son los vivos;
Los que viven sin honra son los muertos.

La vida no es la vida que vivimos;
La vida es el honor, es el recuerdo;
Por eso hay muertos que en el mundo viven;
Y vivos que andem por el mundo muertos. 

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Pela estrada da vida... - Belmiro Braga

Pela estrada da vida subi morros,
desci ladeiras e, afinal, te digo:
se entre os amigos encontrei cachorros,
entre os cachorros encontrei-te, amigo!

Para insultar alguém hoje recorro
a novos nomes feios, porque vi
que elogio a quem chamo de cachorro,
depois que este cachorro conheci.

Belmiro Braga

sábado, 27 de junho de 2015

Soneto do Desmantelo Azul - Carlos Pena Filho

SONETO  DO  DESMANTELO  AZUL

Carlos Pena Filho
(Poeta pernambucano)

Então, pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas,
depois, vesti meus gestos insensatos
e colori as minhas mãos e as tuas.

Para extinguir em nós o azul ausente
e aprisionar no azul as coisas gratas,
enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas.

E afogados em nós, nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço.

E perdidos de azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul. Azul.

Crítica ao EROTISMO-AZUL de Carlos Pena Filho. Clicar em PDF.

Triste encanto... - Mário Quintana

Triste encanto das tardes borralheiras
que enchem de cinza o coração da gente...
A tarde lembra um passarinho doente
a pipilar os pingos das goteiras...

A tarde pobre fica horas inteiras
a espiar pela vidraça, tristemente,
o crepitar das brasas nas lareiras...
Meu Deus! o frio que a pobrezinha sente!...

Por que é que esses arcanjos neurastênicos
só usam névoa em seus efeitos cênicos,
nenhum azul para te distraíres?...

Ah! se eu pudesse, tardezinha pobre,
eu pintava trezentos arco-íris
neste tristonho céu que nos encobre...


Mário Quintana

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Mulata - Renê Guimarães

MULATA

Renê Guimarães
(Poeta de Sete Lagoas-MG)
(1904-1966)

Mulata, flor estranha das senzalas,
Misteriosa rosa dos mocambos,
Tens dilúvios de amor na voz, se falas,
E incêndio de paixões nos olhos bambos.

Por tua fresca pele cor de jambos,
Um cheiro quente de volúpia exalas;
Na cozinha, és mais fêmea entre molambos
Que as brancas, entre sedas, pelas salas!

Freira do amor, de carne hospitaleira,
Esposa oculta a que ninguém dá nome,
Noiva da mocidade brasileira...

Tu nos dás água e fruto em nossa rede,
Eva trigueira da primeira fome,
Samaritana da primeira sede!


VER NESTE LINK UMA CRÍTICA LÍTERO-RACIAL AO OBJETO SEXUAL DA "MULA-TA" PELOS BRANCOS BRASILEIROS:


quinta-feira, 25 de junho de 2015

Conta e Tempo - Laurindo Rabelo

CONTA E TEMPO

Laurindo Rabelo

Deus pede estrita conta do meu tempo;
é forçoso do tempo já dar conta;
mas como dar, sem tempo, tanta conta,
eu que gastei, sem conta, tanto tempo?

Para ter minha conta feita a tempo,
dado me foi bem tempo e não fiz conta.
Não quis, sobrando tempo, fazer conta;
quero hoje fazer conta, e falta tempo.

Ó vos, que tendes tempo sem ter conta,
não gasteis vosso tempo em passatempo,
cuidai, enquanto é tempo, em fazer conta.

Ah! Se aqueles que contam com seu tempo
fizessem desse tempo alguma conta,
não choravam como eu, o não ter tempo...


Baseado neste famoso soneto, escrevi um no mesmo estilo:


VIDA  E  MORTE


Por certo existe vida após a morte,
e todo ser da morte torna à vida.
A vida amadurece para a morte;
da semente da morte brota a vida.

Em vida caminhamos para a morte,
sem saber que na morte há muita vida.
Em nossa curta vida há tanta morte,
e existem mortes que nos dão mais vida.

Em nossa eterna vida não há morte:
se toda morte anseia pela vida,
a vida se transcende pela morte.

E nesta dualidade morte-vida,
que a vida nos prepare para a morte,
e toda morte seja bem vivida!...

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Por que, ó Sagrado... - Fernando Pessoa

Por que, ó Sagrado, sobre a minha vida
Derramaste o teu verbo?
Por que há de a minha partida
A coroa de espinhos da verdade [?]
Antes eu era sábio sem cuidados,
Ouvia, à tarde finda, entrar o gado
E o campo era solene e primitivo.
Hoje que da verdade sou o escravo
Só no meu ser tenho [,] de a ter [,] o travo,
Estou exilado aqui e morto vivo.

Maldito o dia em que pedi a ciência!
Mais maldito o que a deu porque me a deste!
Que é feito dessa minha inconsciência
Que a consciência, como um traje, veste?
Hoje sei quase tudo e fiquei triste...
Porque me deste o que pedi, ó Santo?
Sei a verdade, enfim, do Ser que existe.
Prouvera a Deus que eu não soubesse tanto!

Fernando Pessoa - 1932

Leia-se esta dissertação de mestrado sobre o ocultismo em Fernando Pessoa:

http://www.bdtd.ndc.uff.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=3709

terça-feira, 23 de junho de 2015

Prince Charmant - Florbela Espanca

PRINCE CHARMANT

Florbela Espanca (1894-1930)

No lânguido esmaecer das amorosas
Tardes que morrem voluptuosamente
Procurei-O no meio de toda a gente.
Procurei-O em horas silenciosas

Das noites da minh'alma tenebrosas!
Boca sangrando beijos, flor que sente...
Olhos postos num sonho, humildemente...
Mãos cheias de violetas e de rosas...

E nunca O encontrei!... Prince Charmant
Como audaz cavaleiro em velhas lendas
Virá, talvez, nas névoas da manhã!

Ah! Toda a nossa vida anda a quimera
Tecendo em frágeis dedos frágeis rendas...
- Nunca se encontra Aquele que se espera!...



segunda-feira, 22 de junho de 2015

Argila - Raul de Leoni

ARGILA

Raul de Leoni (1895-1926)

Nascemos um para o outro, dessa argila
De que são feitas as criaturas raras;
Tens legendas pagãs nas carnes claras
E eu tenho a alma dos faunos na pupila...

Às belezas heroicas te comparas
E em mim a luz olímpica cintila,
Gritam em nós todas as nobres taras
Daquela Grécia esplêndida e tranquila...

É tanta a glória que nos encaminha
Em nosso amor de seleção, profundo,
Que (ouço ao longe o oráculo de Elêusis)

Se um dia eu fosse teu e fosses minha,
O nosso amor conceberia um mundo
E do teu ventre nasceriam deuses...

http://luzmediterranea.blogspot.com.br/