quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Poemas de Mauro Fonseca - Parte 2

homem

prepotente o homem
surpreendente o homem
onisciente o homem
onipotente o homem

- nas horas vagas
morre de medo e de fome.

x-x

das flores

se digo flores
tão incertas
vidas que abrigam
os horizontes de tábuas misérias
por entre tocos fincados
cobertos de zinco
lacrados com pregos
morada dos famintos
das flores e dos cegos.
se lembram das flores
da fome esquecem...

ah, não maldigo
as flores que lá crescem.

x-x

invadiram o palco
em meio ao espetáculo
aleijaram a bailarina
cortaram as mãos do equilibrista
cegaram o engolidor de fogo
depois entraram nos camarins
e quebraram as luzes e os espelhos
rasgaram as fantasias
surraram o bilheteiro
voltaram urinando na lona
até o picadeiro
insultando a platéia
que de pé aplaudia
a cena em que os palhaços
eram jogados aos leões.

x-x

noite prostituta

hoje não vou beber leite
essa noite eu supuro minha úlcera
faço uma festa
e convido a puta da esquina
o bêbado irrecuperável
o guerrilheiro paranóico
o poeta e a travesti
escandalizo a vizinhança
desabo sobre a mesa
fogos de artifício
enchendo de luzes e berros a cidade
que fede a silêncio e escuridão.

x-x

espetáculo de hoje

não,
ninguém comoveu a platéia
e os aplausos
foram só por alguns minutos.
 depois que finalmente
abaixarem as cortinas
todo o sangue será lavado do palco.
amanhã,
talvez a mesma platéia volte
para ocupar as mesmas cadeiras
que esperarão em silêncio.

amanhã vocês terão outra chance.

x-x

uma questão de ótica

eu sob o teto
o palco da minha cidade
desfilo
com óculos escuros
de camelô
aguardando a tempestade
sem nenhum pudor.

x-x

na festa das feras
o estranho poeta surdo
sai pela porta dos fundos
sangrando

x-x

palavras sob mira 3

apagar
os olhos
inventar segredos
talvez um porão
bem mais fundo
mais profundo
um abismo talvez.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Poemas de Mauro Fonseca - Parte 1

         Em 1982, o meu saudoso amigo, poeta Mauro Fonseca, publicou um livreto chamado “Não Sou Náufrago na Ilha de Ninguém”, Naveta Publicações, desenhos de Fernando Motta Rodrigues, Juiz de Fora/MG, que dedicou aos seus pais, composto de 15 pequenos poemas, os quais irei transcrever a seguir, prestando-lhe, assim, uma carinhosa homenagem:

x-x

‘ei amigo, conhecei bem o porão de vossa casa!’

x-x

palavras sob mira 1

não, não produz
nenhuma pedra.
(invento de luz
nos seios da treva)
nunca a palavra
estranha seduz,
torna amarga
e nada traduz.

x-x

onipotente sol onipotente

sei das luzes
              deuses
mas nem deuses
       como luzes
(apenas o sol)
quero deus
        luz
mas nem luz
            como deus
(apenas o sol)

x-x

aspirinas

então morder as mãos
cuspir sangue pelo corredor
chegar à sala
e agredir os móveis
derrubando louças
quebrando cristais
gritar até que os olhos caiam
e saiam pela boca palavras e bílis
depois voltar ao quarto
e adormecer
sem nenhum compromisso
de amanhã acordar
e voltar à vida.

x-x

estranha visita

não riu das piadas
nem contou nenhuma.
(não havia mar
nem sinal de porto algum)
permaneceu sentado
não aceitou o café, nem muito menos o drink
apenas olhava para nós
apenas continuava olhando para nós.

x-x

pequeno ensaio

pros sobrinhos cleber, diogo, thiago, roberta,
ana carolina e os que ainda virão

um dia desses
a gente mostra ao espelho
algo mais que cravos e espinhas

um dia desses
a gente deixa de conservar na geladeira
os princípios da família

um dia desses
a gente ensina nossas mães
a pronunciar (direitinho) nossos nomes

um dia desses
um bando de fadas e anjinhos
removerá o telhado escuro da casa dos homens

um dia desses
o tio fica louco...

x-x

palavras sob mira 2

secar o poço
anistiando a sede
queimar o trigal
abolindo a fome
rasgar a roupa
desatando o nu
desencantando o homem.


terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Ao Cristo - Vespasiano Ramos

AO CRISTO
Vespasiano Ramos

Ó Luz Celeste! Essência! Ó Bondade!
Soberano de todos os soberanos;
esperança dos míseros humanos,
Jesus, - Misericórdia e Caridade!

Cristo-Amor! Cristo-Luz! Cristo-Piedade!
Divino apagador dos desenganos;
Tu que foste há quase dois mil anos,
sacrificado pela Humanidade,

prometeste voltar! Não voltes, Cristo!
Serás preso, de novo, às horas mudas,
depois de novos e divinos atos,

porque, na Terra, deu-se, apenas isto:
- Multiplicou-se o número de Judas
e vai crescendo a prole de Pilatos!...

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Uma História de Judas - João Alphonsus

     UMA HISTÓRIA DE JUDAS
     JOÃO ALPHONSUS
     (1901-1944 - Brasil)

      "Grande contista" (Mário de Andrade dixit), o mineiro João Alphonsus publicou apenas três curtos livros do gênero: Galinha Cega, Pesca da Baleia e Eis a Noite! De uma família de escritores que remonta ao romântico Bernardo Guimarães, e filho do simbolista Alphonsus de Guimarães, foi também romancista (Totônio Pacheco, Rola-Moça). Seu humor não nos leva ao riso franco, pois traduz "uma literatura humana, terrivelmente, miudamente, dolorosamente humana" (Drummond). É o brasileiro patético do interior, anos 1940, 1950, este "Judas" mineiro.

      Como Sexta-feira da Paixão fosse dia santo, um dia santo extraordinário em todo o mundo cristão, o homem teve a primeira contrariedade do dia quando a mulher lhe comunicou que não havia café com leite. Só café. O leiteiro anunciara de véspera que ele descansaria sexta-feira, que os ubres de suas vacas descansariam, isto é, que não haveria distribuição de leite. Sizenando, como burocrata que era, achava naturalíssimo não trabalhar de Quarta-feira de Trevas a Domingo da Ressurreição. Mas o leiteiro não tinha esse direito. Deixar de tirar o leite de suas vacas!
      Bebeu o café simples. O líquido lhe fez certo bem ao estômago, tanto assim que sentiu uma disposição não para a alegria franca, que não era do seu feitio, mas para o humorismo. Brotou-lhe na cabeça um pensamento humorístico: - os bezerros hoje vão ter indigestão de leite; que festa para eles... Lembrou porém que a medida não era geral: haveria outros leiteiros que não respeitavam a santidade máxima do dia. Uma lástima. E um pecado. Os bezerros, afinal de contas, são dignos de uma certa consideração.
      Depois que sua mulher saiu para a igreja, Sizenando tirou um cigarro do bolso do pijama de zefir estampado e caminhou para o alpendre florido de sua casa, um bungalow como outros muitos, suburbano e tranqüilo. Caminhou para a espreguiçadeira: fumar sossegado, gozar a paisagem da manhã, ler jornal, produzir outros pensamentos iguais ao dos bezerros, filosofar. Fica entendido que o seu filosofar não passava além daquilo: humorismo simples em torno das vacas, da repartição pública, das mulheres alheias, com sal e pimenta. Seria um homem feliz, se não houvesse um motivo para o contrário. O jornal anunciava bailes à fantasia para Sábado de Aleluia, o que o fez recordar um companheiro de repartição, seu rival na candidatura à promoção iminente. Tal colega era um sujeito carnavalesco, chefe de foliões, e safado como poucos! Perito em traições, como Judas... Mas logo teve pena de Judas: porque comparar o traidor de Jesus àquele sujeito, se o pobre Judas não devia ser tão mau assim, coitado?
      Mal formulara essa pergunta sem resposta, viu aproximar-se do portão de sua casa, olhando-a atentamente com o ar de quem almejasse lhe penetrar os umbrais, um desconhecido vestido de preto, luto por algum parente, ou respeito à tradição de se enlutar a pessoa, quando religiosa, naquele dia. Sizenando deslizou ligeiro da espreguiçadeira para dentro de casa, agachado atrás da jardineira que circulava o alpendre.
      - Tem um sujeito aí. Já está batendo palmas... Pergunte o nome e venha saber se estou em casa.
      A criada cumpriu a recomendação e voltou com os olhos muito abertos, cara de espanto:
      - Ele disse que é Judas. Judas Iscariotes.
      - É?!
      O homem teve um minuto de hesitação, depois do que ordenou calmamente à criada que introduzisse o sujeito na sala. Nova hesitação, depois da qual resolveu aparecer-lhe mesmo de pijama e barba de dois dias. Para que cerimônias? Pediria desculpas. O visitante matutino devia ser algum pândego. Ou doido? Entrou na sala com uma certa inquietude.
      - Bom dia.
      - Bom dia. O senhor como vai?
      - Regularmente. Às ordens.
      O estranho era banal e comum, embora grave e solene; nem alto, nem baixo; nem gordo, nem magro. Parecia sentir calor dentro do terno preto; mesmo cansaço, desânimo. Os olhos, no entanto, brilhavam com animação, de um modo esquisito, como se não fossem da mesma pessoa.
      - Às ordens, insistiu Sizenando. Peço desculpas pela falta de cerimônia do pijama.
      - E eu, peço desculpas pela importunação matutina. Sou Judas Iscariotes; ou de Kerioth, que é mais erudito e pedante. Sou e não sou. Sou o espírito de Judas invocado pelo sujeito que está sentado nesta cadeira. Fui invocado no Domingo de Ramos; tenho que permanecer no corpo dele a semana inteira... 
      Sizenando notou que a voz era pura, franca, simpática: como os olhos, não parecia pertencer ao mesmo indivíduo; não sendo espírita, nenhuma conclusão tirou do fenômeno presente; continuou calado, cortesmente incrédulo, sorrindo.
      - Quer provas? Para um espírito, não era necessário que o senhor fizesse o homem invisível, pois se entrei aqui foi porque talvez tenha sido o senhor a única pessoa que nesta emergência anual me dedicou um pensamento de relativa simpatia. O senhor acha mesmo que não sou tão traidor como aquele seu colega de repartição?
      O espanto de Sizenando foi imenso. Era verdade! Um fato real... e tão natural, com discrição e polidez, à luz do dia, que não lhe causava medo nenhum, aquela alma do outro mundo, Judas...
      - A minha encarnação neste indivíduo foi divertida. A técnica é diferente: nunca apareci em sessão espírita nenhuma; quando um sujeito está realizando uma traição, nas proximidades do meu dia de cada ano, eu entro no corpo dele. Por uns dias. Este meu hospedeiro foi visitar um amigo no último domingo. Visitar a mulher do amigo, que estava sozinha em casa .No momento em que externava o seu desejo à mulher, me apossei do corpo dele, dei uma desculpa esfarrapada para não continuar o assunto e fui saindo. A esposa do outro ficou surpresa e contrariada, porque já se ia no embalo; e tive uma tentação de apanhar pedras na rua para apedrejar a adultera biblicamente, como no meu tempo. Mas, como dizia o Mestre, quem é que pode atirar a primeira pedra? Além disso, o calçamento era de asfalto, e eu tinha pressa de perambular, perambular, perambular... Isto faz parte dos castigos impostos a Judas Iscariotes. Mas penso que qualquer dessas traições que há por aí é muito pior que a minha.
      - Eu também penso.
      - O senhor assim pensa quando é o traído. E quando é o traidor? Aquela sua intriga foi malsucedida. E o seu colega tinha pistolões mais fortes... Quanto a mim, prefiro encarnar nos traidores políticos (quis variar, este ano). O terreno é fértil e simpático, pois a minha traição foi eminentemente política. Do meu beijo perjuro dependia a redenção da humanidade. Ora, eu conhecia as profecias, acreditava no Divino Mestre, sabia que era o momento de surgir o traidor. Se eu explicasse tudo isso aos perseguidores do Nazareno? Talvez lhes tivesse aberto os olhos. Preferi aceitar os trinta dinheiros, que perdi no jogo, e fazer o papel profetizado, estabelecido, benemérito. Benemérito pelas suas conseqüências. Sofri muito ao aceitar a imposição da profecia. Estou sofrendo ainda.
      - Tenho pena do senhor.
      - Que é que me adianta a sua pena? A minha tese é esta: pode alguém ficar eternamente responsável por um ato, que já estava divinamente pré-estabelecido numa cadeia de acontecimentos inadiáveis?
      - Não pode não. É um absurdo!
      - Pode. Tanto pode, que estou responsável. Eu podia ter recusado o papel. E o senhor acredita no livre arbítrio... Falou - não pode não! - quando pensava o contrário: que seria incapaz de trair como eu, com um beijo... Traidor! O senhor sabe que vai ser processado por calúnia? Jurou que o seu competidor na vaga da repartição havia feito desaparecer o processo referente ao desfalque. O processo foi encontrada no segundo escaninho da estante quarta do arquivo, lá onde o senhor o tinha escondido... O competidor vitorioso quer processá-lo judicialmente.
      - Sei disso. Já procurei saber qual é a pena de prisão. Mas o processo não pega.
      - Pega sim. Para mim, não existe passado, nem presente, nem futuro. Tudo é a mesma coisa. A eternidade. O senhor será condenado. E perderá o emprego, além da; reputação, pois a falta é também funcional. Perderá tudo. Ficará na miséria. MISÉRIA!
      O estranho visitante, de pé, se debruçou brutalmente sobre Sizenando e os seus olhos ardentes olhavam tanto, tão agudamente, que o nosso homem sentiu no corpo uma impressão irremediável de punhais que lhe estraçalhassem as vísceras, de acabamento integral: não tinha cor no rosto e tremia. A voz quente de Judas ciciou no seu ouvido esquerdo:
      - O senhor não tem no quintal uma figueira?
      - Não, mas tenho no quarto um revólver.
      - Então, adeus. Até à eternidade.
      Passou a porta, o portão. Na rua, parecia um homem como outro qualquer. Mas não era. Tanto não era que Sizenando foi automaticamente à gaveta onde guardava o revólver. Não, pensou: vou esperar minha mulher voltar da missa e lhe conto tudo. Os olhos eternos de Judas não saíam da sua memória: a impressão, do corpo. Será possível que eu seja a vítima escolhida para tanta perseguição, por causa de uma caluniazinha? E os outros, os outros que pululam por aí, sem processo e sem miséria!
      Sua perturbação era extrema. Raciocinou: estas coisas estão absurdas, tão absurdas que só podem ser sonho; se não estou acordado e se não tenho revólver real na mão, vou dar um tiro na cabeça com este revólver de mentira, pois despertarei com o estampido. Raciocinando desse modo, com todo o seu bom senso, Sizenando puxou o gatilho. A criada, que estava na cozinha, saiu correndo como louca na direção do quarto, ouvindo a detonação, e o baque do corpo.

      (“Os 100 Melhores Contos de Humor da Literatura Universal”, organização de Flávio Moreira da Costa, Ediouro, Rio de Janeiro, 2001, 3ª Edição, Páginas 457 a 460.)

domingo, 27 de dezembro de 2015

Escritores, poetas e filósofos ligados ao Espiritualismo (Parte 5)

      OSCAR WENCESLAU DE LUBICZ MILOSZ (1877-1939) “Escritor, poeta, místico e investigador esotérico. As suas obras contêm um grande simbolismo, uma visão extraterrestre, fruto da faculdade supranormal de intuição de seu autor para perceber tanto o mundo da luz como o das trevas. Estudou profundamente a cabala.”
      OMAR KHAYYAM – Poeta persa. Seu trabalho principal é “Rubayat”, obra poética constituída de 500 epigramas. “O epigrama era uma forma utilizada exclusivamente na literatura persa como veículo para desenvolver tópicos do misticismo sufi e, embora alguns dos epigramas sejam puramente místicos e panteístas, outros refletem o breviário de um livre pensador (era considerado ateu) que protesta contra a intolerância e a excentricidade do sufismo e a maioria deles são um canto de magnífica inspiração sensual e epicurista ao amor, ao prazer e ao vinho, enquadrado no mais elevado otimismo ou no mais profundo pessimismo.”
      JAN POTOCKI (1761-1815) Escritor polonês. “Além de obras históricas, escreveu em francês uma de caráter novelesco, ‘Manuscrit Trouvé a Saragosse’, constituída por uma série de contos divididos em jornadas onde o elemento fantástico, o satanismo e o vampirismo têm um papel dominante, demonstrando o interesse que tinha o autor pelos temas ocultos.”
      RUMI (1207-1273) “O maior poeta sufi da Pérsia. Dedicou-se ao estudo da teosofia mística. Rumi escreveu muitas obras em louvor à ordem derviche Mavlevi por ele criada, mas sua fama vem da coleção de preceitos morais e éticos ‘Mathnawi’, destinada ao uso dos derviches. Esta imensa obra é integrada por seis livros que contêm de 30 a 40 mil versos de ritmo duplo. A ideia deste trabalho foi sugerida ao poeta por seu discípulo favorito, Husamuddin, a quem Rumi ditou de 1258 até sua morte. Este livro é tão venerado que se acredita que seu estudo abra as portas do céu. Logo após sua morte, Rumi começou a ser venerado como santo.”
      GEORGE WILLIAM RUSSELL (1867-1935). “Poeta, místico e pintor. Como poeta deve ser considerado um místico no sentido de que seus versos são dominados por uma profunda concepção espiritual do universo.”
      ERNESTO SÁBATO – Escritor argentino. “Suas novelas ‘El Túnel’ e ‘Sobre Héroes y Tumbas’ lhe deram fama mundial. Proveniente das ciências físico-matemáticas, Sábato tem um forte vínculo com a realidade esotérica que faz lembrar Swedenborg e Strindberg.”
      SIR WALTER SCOTT (1771-1832) “Poeta e novelista. O grande escritor, criador da novela histórica, foi maçom. Seu interesse pelo ocultismo se evidencia na forma como introduziu temas ocultistas com genuíno senso artístico em sua produção literária” (astrologia, profecia, sobrenatural, magia).
      RABINDRANATH TAGORE (1861-1941) Poeta e filósofo indiano. “Sua obra poética, que mereceu o Prêmio Nobel (1913), situa-o entre os grandes líricos de todos os tempos. Sua poesia caracteriza-se por um profundo sentido religioso e uma expressão sensível da natureza. O diversificado trabalho de Tagore, como poeta, ensaísta e pedagogo; o misticismo panteísta de sua doutrina filosófica e sua posição como profeta e intérprete da Índia moderna, fazem dele um dos espíritos mais puros e mais livres do nosso tempo, cuja obra é admirável síntese de beleza e sinceridade. Compôs música para mais de três mil canções e sua obra literária inclui poesia, drama, novela e ensaio.”
      VILLIERS DE L’ISLE-ADAM (1840-1889) Escritor francês. “Admirador de Poe e Wagner e grande seguidor da doutrina de Jacob Boehme. O sobrenatural, os fantasmas e a crueldade refugiaram-se em seus livros. É considerado o iniciador do simbolismo.”

      (Fonte: “Os Mestres do Espírito”, edição especial da revista “Planeta”, Editora Três, São Paulo.)

sábado, 26 de dezembro de 2015

Escritores, poetas e filósofos ligados ao Espiritualismo (Parte 4)

      RUDYARD KIPLING (1865-1936) Escritor inglês. “É famoso por suas narrações passadas na Índia. Ingressou na maçonaria. Alguns de seus contos têm um fundo maçônico e ocultista.”
      JOSEPH SHERIDAN LE FANU (1814-1873) Escritor irlandês. “Deu provas de talento literário por meio de várias novelas nas quais sua vigorosa imaginação e amor pelo sobrenatural representam importante papel. Entre estas encontra-se ‘Carmilla’, uma narração de vampirismo.”
      MATTHEW GREGORY LEWIS (1775-1818) Escritor inglês. “Em 1794 escreveu sua famosa novela de terror ‘Ambrosio, or the Monk’, que foi seguida de outras do mesmo tipo. Compilou duas antologias de narrações ocultistas intituladas ‘Tales of Terror’ e ‘Tales of Wonder’.”
      HOWARD PHILLIPS LOVERCRAFT (1890-1937) “Escritor de literatura fantástica. Menino precoce, demonstrou extraordinário interesse pela ciência, alcançando erudição em arqueologia, química, física, matemática, astronomia e literatura, sem desdenhar o estudo de astrologia e das línguas exóticas (dialetos africanos). Foi um solitário, pobre e doente que ganhou a vida escrevendo contos e viveu ignorado, quase recluído no nº 10 da rua Barnes da cidade de Providence, nos EUA, onde nasceu. Cultivou a literatura fantástica (com forte influência de Poe) até se converter em um dos mais geniais representantes da mesma. Sua extraordinária fantasia na criação de mitos e o ambiente extrassensorial de que estão impregnadas suas criações têm um pronunciado toque esotérico. Teve o privilégio de conquistar domínios imensos e desconhecidos para a imaginação humana fazendo do cosmos um mito de presença real e terrível.”
      ARTHUR MACHEN (1863-1947) Escritor e ocultista. “Atraído pelo ocultismo, cultivou a amizade de A. E. Waite e foi membro da Hermetic Order of the Golden Dawn, onde adotou o nome de Filus Aquarti. Já havia começado a publicar histórias fantásticas desde 1895, mas só em 1914 um de seus contos (‘The Bowmen’) despertou interesse geral. Suas novelas abordam o sobrenatural e têm sentido ocultista.”
      MAURICE MAETERLINCK (1862-1949) Poeta, dramaturgo e filósofo. “Maeterlinck soube dar nascimento a um mundo novo em que um sopro sobrenatural e poderoso movimenta os personagens e impulsiona seus atos. Nele, o enigma transforma-se em sentimentos, em emoção subconsciente, em algo vago e misterioso que se move na penumbra dos escaninhos do espírito. Empenhou-se em despojar da morte toda ideia de terror, baseando-se nas possibilidades de comunicação com o além. Aderindo às correntes espíritas, os mistérios do cosmos e a vida no espaço arrebataram sua admiração e suas inquietudes. Nos ensaios metafísicos que escreveu, Maeterlinck faz-nos esquecer o pessimismo do seu teatro, porém, tão logo toca de leve nas concepções religiosas, teosóficas e espíritas, mantém-nos submergidos em um mundo do desconhecido, de presenças invisíveis e inexplicáveis.”
      HUMBERTO MARIOTTI – Poeta, escritor, filósofo e espírita argentino. “Algumas de suas obras foram traduzidas para o português. Mariotti propaga através de trabalhos filosóficos, literários e sociológicos a interpretação espiritualista do homem e do universo à luz da escola kardecista. Na poesia, aprofundou o aspecto numinoso e esotérico, chegando a conclusões filosóficas que o levaram a estabelecer as bases do que denomina poesia secreta. Prestou ainda especial atenção ao fenômeno mediúnico poético.” Obras: “Victor Hugo y la Filosofia Espírita”, “Significado Existencial del Acto Poético”, “El Ocultismo Numinoso en el Fenómeno Poético”, etc.
      GUSTAV MEYRINCK (1868-1932) “Embora tenha escrito quase que exclusivamente novelas, é considerado um dos cultores importantes de temas esotéricos, encontrando-se em suas obras ensinamentos iniciáticos de forma precisa e explícita. Aproxima-se das lendas populares, dos ritos antigos, das doutrinas secretas de todos os tempos e esclarece através delas o drama profundo do homem. Quanto à fonte de tais conhecimentos, parece que ele teria praticado originalmente disciplinas esotéricas orientais até alcançar certo grau de iluminação, mostrando ainda em seus trabalhos uma influência de tom cabalístico.”

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Escritores, poetas e filósofos ligados ao Espiritualismo (Parte 3)

      FARID UD-DIN ATTAR (1119-1229) Místico e poeta persa. “Começou a estudar a teosofia mística sob a tutela de um faquir, aprofundando-se tanto no espírito desta doutrina que chegou a converter-se em um dos seus principais representantes. Viajou pelo Oriente e visitou a Índia e ao retornar foi investido com o manto sufi em Bagdá. Grande parte de sua vida, caracterizada por um ascetismo extremo, transcorreu em Shadyakh, tendo sido morto por um soldado de Gengis Khan quando tinha cento e dez anos de idade. Foi um escritor prolífico e deixou cerca de 120 mil estrofes poéticas. Obras: ‘Mantik ut-tair’ (Linguagem dos Pássaros), poema alegórico sobre a vida e a doutrina sufi; ‘Pandama’ (Livro de Conselhos); ‘Bulbul Nama’ (Livro do Rouxinol); ‘Wasalet Nama’ (Livro de Conjunções); ‘Tadhkiratu’l Awbija’ (Memória dos Santos).”
      GIBRAN KALIL GIBRAN (1883-1931) Poeta, escritor, filósofo e pintor. “Escreveu prosa e poesia mística em inglês. Tagore e Gibran têm sido considerados os dois maiores poetas do Oriente entre fins do século dezenove e começo do vinte.”
      JOHANN WOLFGANG VON GOETHE (1749-1832) Poeta e escritor alemão. “Toda a obra de Goethe evidencia a busca incessante de uma sabedoria transcendental e o ‘Fausto’, sua obra máxima, simboliza o espírito humano, inquieto e ambicioso, que diligencia em busca do conhecimento da suprema verdade. As relações de Goethe com o esoterismo ficaram documentadas através de sua afiliação maçônica. Iniciado na Loja Amália, em Weimar, em 24-6-1780, deu verdadeiro impulso à mesma e compôs numerosos poemas de inspiração maçônica. Comentou-se também uma suposta filiação sua à Ordem Rosa-Cruz, em 1783, mas sem provas suficientes. Goethe, entretanto, proclamou sua fé na astrologia em alguns dos seus escritos.”
      SIR HENRY RIDER HAGGARD (1856-1925) Escritor inglês. “Dotado de uma poderosa imaginação, algumas de suas novelas têm um caráter fantástico e foram elogiadas por Blavatsky.”
      NOVALIS (1772-1801) Poeta. “Uma das maiores figuras do romantismo alemão, Novalis foi um pensador profundo que pretendeu em sua lírica elevar à religião sua própria filosofia cósmica. Uma obsessão mística domina sua obra e algumas de suas composições envolvem um sentido esotérico”
      HERMANN HESSE (1877-1962) Poeta e novelista alemão. “Sua obra literária, que teve triunfal acolhida em todos os países, marca três correntes bem definidas: mística, no terreno religioso; idealista-panteísta, no filosófico; e de exaltação à liberdade, no político-social. Grande parte das obra de Hesse tem um fundo transcendente e hermético.”
      ALDOUS HUXLEY – Escritor inglês. “Entre sua abundante produção como novelista e ensaísta, encontram-se trabalhos de caráter transcendente, tais como ‘O Tempo Deve Parar’, novela ocultista, ‘A Filosofia Perene’, ensaio místico, e ‘As Portas da Percepção’, que relata suas experiências com a mescalina.”
      JORIS KARL HUYSMANS (1848-1907) Novelista e ocultista. “Atraído pelo ocultismo, foi colaborador da revista ‘L’Initiation’, onde escreveu sobre Martinismo e outros temas e cultivou a amizade de E. Grillot de Givry e outros ocultistas. Suas investigações em matéria de satanismo e feitiçaria alteraram-lhe a saúde física e mental e antes de morrer destruiu todos seus manuscritos inéditos. Morreu como católico. Sua contribuição fundamental à literatura ocultista reside na novela ‘Là-Bás’, um clássico do satanismo onde o herói – Durtal – faz sua aparição como um investigador da vida de Gilles de Rais. Embora tenha sido apresentada como uma novela, este livro pode servir também como uma referência sobre o satanismo, já que o autor faz excelente uso de abundante documentação sobre feitiçaria, alquimia e satanismo e foi também assessorado por pessoas intimamente relacionadas com as práticas ocultistas. Obras (novelas relacionadas com o ocultismo): ‘Là-Bás’ (1891); ‘A Route’ (1895), narra a conversão do personagem Durtal ao catolicismo; ‘L’Oblat’ (1903), o ingresso de Durtal como beato em um mosteiro beneditino.”
      KABIR (1440-1518) Poeta indiano. “Possuidor de extraordinárias tendências místicas, foi discípulo de Ramananda e buscou a verdade em todas as religiões, chegando a converter-se em um dos maiores santos e visionários da Índia. A lenda relata que hindus e muçulmanos, ambos reivindicando Kabir como seu, disputaram após sua morte a posse do seu cadáver, mas quando o sudário foi levantado encontraram em lugar do corpo um ramo de flores. Em Magahar estão sepultados os ‘restos florais’ de Kabir em um templo guardado pelos Kabirpanthis, membros da seita Kabir Pantha, fundada por seus discípulos. Membro da casta mais baixa, Kabir rechaçou o sistema de castas imperante bem como grande número de costumes bramânicos, buscando o elemento espiritual comum capaz de unir os hindus acima das diferenças de raças, castas e religiões. Sua doutrina, de profunda espiritualidade, afirma a existência de um Deus único para todos, o qual recebe diversos nomes e dogmas que os homens estabelecem. Não se alcança Deus por meio da razão ou do conhecimento, mas pelo impulso simples e apaixonado do coração, prevalecendo, no fundo, apenas a experiência mística. Com igual liberdade criticou o hinduísmo e o maometismo. Através de seu principal discípulo, Nanak (1469-1538) estabeleceu assim os fundamentos da religião Sikh. Kabir deixou em idioma hindu uma importante obra poética, que permanece viva.”

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Escritores, poetas e filósofos ligados ao Espiritualismo (Parte 2)

      AIMÉE BLECH – Espiritualista e escritora. Autora de “Lights and Shadows: Tales of Karma and Reincarnation”.
      JORGE LUIS BORGES – Poeta e escritor. “Não satisfeito com uma educação literária, incursionou em questões filosóficas e em diversas ciências. Escreve seu biógrafo Ríos Petrón que ‘em Borges, o metafísico não é acessório e sim substância. Sente os temas metafísicos não como um jogo de abstrações mas sim como um compromisso no qual ingressa todo seu ser’. Os temas de Borges podem ser encontrados em filosofias de todas as épocas, mas é nas orientais onde se deve procurar uma semelhança de desenvolvimento. Seu pensamento parece ter analogia com a doutrina budista e a lei de causa e efeito (Karma), como bem se nota em seu poema ‘Del Infierno y del Cielo’. As citações e incursões no campo do esotérico são frequentes na obra deste eminente escritor argentino.”
      EDWARD GEORGE EARLE BULWER-LYTTON (1803-1873) Escritor, político e ocultista inglês. “Estudioso dos problemas metafísicos do homem e sua relação com o universo, incursionou no campo do ocultismo, relacionando-se com Eliphas Levi.” Foi rosacruz. “Escritor de grande versatilidade, sua produção é importante e algumas de suas obras abordam temas ocultos.” Novelas ocultistas: “Zanoni” e “A Raça Futura”. “Estas duas obras converteram-se em clássicos da literatura oculta de ficção e a trama da segunda delas, uma utopia, afirma-se, foi sugerida a Bulwer-Lytton por um mestre. Para sua atuação como ocultista ver C. Nelson Stewart, ‘Bulwer Lytton as Occultist’ (1927) com exaustiva bibliografia.”
      JACQUES CAZOTTE (1719-1792) Ocultista, vidente e escritor francês. “Membro da escola de Martines de Pasqualy, foi em geral incluído por diversos autores entre os rosacruzes do século 19. Em 1775 abraçou a doutrina dos ‘Illuminati’. Assegurava possuir dotes proféticos e ficou famosa sua predição feita num banquete anterior à Revolução Francesa, a respeito da decapitação de diversas pessoas, algumas delas presentes, bem como da dele mesmo, fatos que se cumpriram com exatidão. Sobre esse acontecimento, Jean François de La Harpe baseou sua obra ‘Prophetie de Cazotte’. Entre as suas obras encontram-se uma série de contos fantásticos de ambiente oriental intitulados ‘Mille e Une Fadaises. Contes a Dormir Debout’ (1742) e uma novela ocultista ‘O Diabo Amoroso’ (1772), sua obra mais conhecida, pela qual foi acusado de utilizar informação secreta sem a devida autorização.”
      SAMUEL TAYLOR COLERIDGE (1772-1834) Poeta, crítico e filósofo. “Demonstrou desde jovem sua predileção para o misticismo. Planejou uma comunidade utópica nunca realizada.” É autor das obras: “Kubla Khan”, “uma visão do esplendor oriental escrita sob a influência do ópio”; e “Christabel”, “narração inacabada de feitiçaria medieval”. “Introduziu o oculto no verso com uma maestria nunca superada na língua inglesa. Foi um poeta cuja faculdade para reproduzir versos de rica musicalidade, velados pela névoa do sobrenatural, o situa entre as grandes figuras poéticas de todos os tempos.”
      MARIE CORELLI (1864-1924) Escritora inglesa. Autora da novela ocultista “A Romance of Two Worlds”. Escreveu muitas novelas de caráter similar.
      DANTE ALIGHIERI (1265-1321) Poeta italiano. “Numerosos escritores consideram que a sua ‘Divina Comédia’ tem um profundo significado esotérico.” Segundo Gabriele Rossetti “Dante foi membro de uma sociedade secreta de reforma universal e que seus versos têm um significado oculto que escapou à obserbvação de seus comentaristas. Os estudos de Rossetti anteciparam de meio século as opiniões sobre o mesmo tema formuladas pela Sociedade Teosófica e as escolas de misticismo filosófico surgidas no último quartel do século 19. Outros estudiosos consideram que Dante foi um iniciado nos mistérios rosacruzes. Eliphas Levi (‘Histoire de la Magie’, 1869) considera a ‘Divina Comédia’ como uma aplicação gnóstica das teorias cabalísticas aos dogmas cristãos. Outros autores encontram nos símbolos usados nos cantos distintos de seu Paraíso a reprodução dos utilizados pela franco-maçonaria ou que os versos do poema ocultam um ritual da fraternidade à qual Dante teria pertencido.”
      RALPH WALDO EMERSON (1803-1882) Filósofo e poeta estadunidense. “Para Emerson, todo feito da natureza é um reflexo e como um sinal de um feito do espírito. Os fatos naturais são caminhos que conduzem a realidades transcendentais. A forma natural de expressar suas ideias foi o ensaio, que fez captar nos fatos cotidianos a revelação de uma lei absoluta. Seu pensamento, uma espécie de misticismo panteísta, mostra sinais da influência de Swedenborg, Coleridge e Carlyle, e um de seus ensaios sobre a Lei da Compensação tem marcadas reminiscências orientais. Sua filosofia, denominada com o termo de transcendentalismo, exerceu grande influência na formação moderna da consciência americana e muito especialmente em William James.
      FARID (1181-1235) Poeta e místico egípcio. “Sua poesia é inteiramente sufista e foi considerado o maior poeta místico árabe. Diz-se que alguns de seus poemas foram escritos em estado de êxtase.”

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Escritores, poetas e filósofos ligados ao Espiritualismo (Parte 1)

     
      SIR EDWIN ARNOLD – (1832-1904) Poeta e jornalista inglês. Seu poema “The Light of Asia” fala sobre a vida e os ensinamentos de Buda. Viveu na Índia e na Inglaterra. Autor de vários livros de poesia. Traduziu para o inglês o Mahabharata e o Bhagavad Gita, este último em versos, com o título de “The Song Celestial”.
      EDUARDO A. AZCUY – Poeta argentino. “Conseguiu transcender o meramente literário estruturando em torno da experiência poética uma lúcida introdução a um terreno esotérico, campo desta ordem cosmológica distinta, no qual a casualidade é substituída pela analogia, e cujas leis se expressam em termos de correspondências simbólicas ou campos de sincronicidade (segundo Jung)” É autor de “El Ocultismo y la Creación Poética”.
      HONORÉ DE BALZAC – “Balzac acreditava na doutrina esotérica e foi poderosamente influenciado pela obra de Swedenborg, Boehme, Paracelso e especialmente Claude Saint Martin. Abordou o tema especialmente em duas de suas obras: ‘Seraphite’ e ‘Louis Lambert’. A primeira é um drama de tendência rosacruz, onde triunfa o amor sobre o desejo e tem uma estrutura e significados ocultos. Sem dúvida, é uma das obras mais singulares e notáveis de toda a sua carreira. A segunda é um estudo autobiográfico que mostra o conflito existente entre o homem e a carne.”
      WILLIAM BECKFORD (1760-1844) Escritor inglês. É autor de “The History od the Caliph Vathek”, “uma história oriental de horror e do sobrenatural que ocupa um lugar destacado entre as produções deste gênero.”
      EDWARDS BELLAMY (1850-1898) Novelista. Em alguns dos seus contos “abordou os fenômenos psíquicos, que sempre teve para ele um interesse absorvente”. “De acordo com Erich Fromm, ‘Looking Backward’ é ‘um dos mais notáveis livros publicados na América’. Foi o maior best-seller de sua época depois da Cabana do Pai Tomás. No livro, publicado em português com o título ‘Daqui a cem anos: revendo o futuro’, um homem da classe alta de 1887, acorda no ano 2000 após um transe hipnótico e encontra-se em uma utopia socialista. Este livro, traduzido para vinte línguas e lido por intelectuais em diversos países, influenciou e apareceu nas listas bibliográficas de muitos dos escritos marxistas na atualidade. Os Clubes Bellamy se espalharam por toda a América do Norte para discutir e propagar as idéias do livro. Esse movimento político veio a ser conhecido como Nacionalismo. Sua novela inspirou várias comunidades utópicas.” (Wikipédia)
      RODOLFO BENAVIDES – Escritor e espírita mexicano. “Canalizou sua experiência espírita para a literatura. Em algumas de suas obras apresenta o tema de forma romanceada.”
      ALFRED GORDON BENNETT – Novelista e poeta inglês. “Atuou no jornalismo e viajou muito pelo mundo em busca de fatos ocultos, tradições e lendas.”
      PIERRE BENOIT (1886-1962) Novelista francês. Autor das novelas “A Atlântida”, (continente desaparecido) e de “Aino” (magia negra).
     HENRI BERGSON (1859-1941) Filósofo e escritor francês. “Sua filosofia da evolução criadora e da intuição, oposta ao intelectualismo e ao mecanicismo, influiu profundamente não só no pensamento filosófico como também na ciência e na literatura de nossa época.” Teve grande interesse pela Metapsíquica (Parapsicologia).
      ALEXANDER VON BERNUS – Esoterista e escritor alemão. Foi amigo de Rudolf Steiner. Estudou medicina, antroposofia, alquimia e rosacrucianismo, “interessando-se pela produção de medicamentos, semelhantes aos utilizados pelos alquimistas”.
      ALGERNON BLACKWOOD – Escritor inglês autor de contos e novelas de terror. Pertenceu à Golden Dawn.
      WILLIAM BLAKE (1757-1827) Poeta, pintor e místico inglês. “Fortemente influenciado pelo misticismo de Boehme e Swedenborg, teve visões suprafísicas que registrou em sua poesia e pintura. Em 1813 travou amizade com o pintor e astrólogo John Varley que o animou a cultivar o dom da visão. Como poeta, artista e místico visionário, Blake produziu uma série de obras únicas na literatura universal. Soube amalgamar o misticismo com um sentido prático das necessidades humanas. Foi um oponente ao dogmatismo cristão, embora crente fervoroso na visão direta e na unidade com Deus. Nos livros chamados por ele mesmo proféticos ou visionários (“O Casamento do Céu e Inferno”, “The Book of Urizen”, “Book of Thel”, “The Book of Los”) emprega um simbolismo obscuro e pessoal para dar corpo à sua visão do mundo. Seu desenho se caracteriza pela mesma liberdade, grandiosidade e simbolismo de seus poemas. Sob a sombra de suas imagens e alegorias há uma veia contínua de grandes ideias metafísicas que, embora não tenham simetria filosófica, configuram suas experiências místicas e um panorama de visões alcançadas em um estado de consciência paranormal. Sua metafísica tem relação com as doutrinas gnósticas.”

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

A E I O U - Alphonsus de Guimaraens

A E I O U
Alphonsus de Guimaraens

À memória de Artur Rimbaud

Manhã de primavera. Quem não pensa
Em doce amor, e quem não amará?
Começa a vida. A luz do céu é imensa...
A adolescência é toda sonhos. A.

O luar erra nas almas. Continua
O mesmo sonho de oiro, a mesma fé,
Olhos que vemos sob a luz da lua...
A mocidade é toda lírios. E.

Descamba o sol nas púrpuras de ocaso.
As rosas morrem. Como é triste aqui!
O fado incerto, os vendavais do acaso...
Marulha o pranto pelas faces. I.

A noite tomba. O outono chega. As flores
Penderam murchas. Tudo, tudo é pó.
Não mais beijos de amor, não mais amores...
Ó sons de sinos a finados! O.

Abre-se a cova. Lutulenta e lenta,
A morte vem. Consoladora és tu!
Sudários rotos da mansão poeirenta...
Crânios e tíbias de defunto. U.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Simbolismo das Cores - Colatino Barroso

Simbolismo das Cores
Colatino Barroso
(Poeta simbolista.)

      BRANCO – a paz – a alma dos iluminados e dos eleitos – o espaço – página vazia do livro dos séculos, onde medeia a traça que o Deus Mito adornou com o nome pomposo de homem – papirus que se corrompe sem a mácula do traço negro de um hieróglifo.
      VERMELHO – flâmula de guerra – coloração das rosas quente e sensual – frêmito de beijos – requintado essencialismo de um veneno sutil, que o filtro de uma boca de muito estilo – lágrimas dos torturados na volúpia inflada, dos eternamente vencidos, o pranto de Magdala.
      AZUL – o céu – olhar da mulher que se ama – poema de Infinito, que o Sol canta numa orquestração de cristais bimbalhantes apoteose da Glória.
      VERDE – a esperança – esponsais da primavera – enorme sudário, em que a Terra envolve o cineral de todas as ilusões cadáveres de Sonhos.     
      AMARELO – ouro – ruído do prazer para encobrir a mágoa – rosada do Sol – gargalhada estrepidante da Luz.
      ROSA – arrebol do Futuro – névoa do sonho.
      ROXO – saudade – lágrima silente e triste das monjas, das que morreram para o Amor.
      OPALA – céu e o mar – dois firmamentos num só, a refletir as estrelas, que são as pérolas do céu.
      VIOLÁCEA – a harmonia da cor.
      NEGRO – boca escancarada de sarcófago – luz extinto – treva apavorante – olhar apagado de esfinge – a desesperado gozo nunca satisfeito.
      CINZA – coração vazio – o de todos nós, torturados da Forma, torturados do Ideal, que vivemos a salmodiar os versículos do Evangelho de Lágrimas, a palmilhar, os pés abertos em sangue. A Via Dolorosa do Sofrimento e da Mágoa.

domingo, 20 de dezembro de 2015

O Poema das Vogais - Pethion de Vilar

O Poema das Vogais
Pethion de Vilar
(Poeta simbolista brasileiro.)

Ao impecável estilista Remy de Gourmont

“...................................................voyelles,
“Je direi quelque jour vos naissances latentes.”
(A.  Rimbaud.)

A – branco.
   O – preto.
      U – roxo.
         I – vermelho.
            e
               E – verde.

Sim, toda vogal tem um aroma e uma cor,
Que sabemos sentir, que poderemos ver de
Cima do Verso, de dentro do nosso Amor.

                                 A

A – deslumbrante alvor; lagoas de neblina,
Mortas entre bambuais em noites de luar;
Panejos de albornoz; celagens de morfina;
Hóstias subindo, lento, entre os círios do altar.

Neve solta a cair; runimóis do Himalaia;
Palidez de noivado; asas pandas de cisne;
Estátuas; colos nus; penumbras de cambraia;
Pétala de magnólia antes que um beijo a tisne.

                                   O

O – negrumes do mar; torvas noites de chuva;
Escuridão dos teus cabelos perfumados;
Gargantas de canhões; compridos véus de viúva,
Longos dias cruéis dos que não são amados.

Veludo que reveste a petrina das moscas,
Dessas que vão pousando em tudo, sem respeito,
E um dia hão de zumbir, gulosas, sobre as roscas
Alvas e frias do teu corpo tão bem feito!

                                    U

U – lúgubres clarões agônicos de enxofre;
Cor do Mistério; cor das paixões sem consolo;
Soluço há muito preso, estourando de chofre;
Último beijo, olhar vesgo e triste de goulo.

Olheiras de Saudade; olheiras de Ciúme;
Chagas místicas de S. Francisco de Assis;
Clangores d’órgão que poeta algum resume;
Desilusões de amor que nenhum verso diz.

                                     I

I – púrpuras reais alcachofradas de ouro;
Rubores virginais; lacre de bofetadas;
Fanfarras de clarim; alamares do toro
Onde o carrasco abate as frontes rebeladas.

Sangue escarrado das bocas tuberculosas;
Sangue da aurora; orvalho ardente das batalhas;
Sangue das uvas; sangue aromado das rosas;
Farrapos de bandeira assanhando metralhas!

                                     E

E – febre do uíste, cor das campinas em flor,
Transparências de absinto; alma da mata virgem;
Cor da Esperança; paz das vigílias do amor;
Mortalhas, que do mar as glaucas ondas cirgem.

Hieróglifos que Deus ou o Diabo escreve
Nas frontes geniais dos Bardos e dos Sábios;
Espáduas sobre as quais a Morte, muito em breve,
Voluptuosamente há de colar os lábios.