quinta-feira, 25 de junho de 2015

Conta e Tempo - Laurindo Rabelo

CONTA E TEMPO

Laurindo Rabelo

Deus pede estrita conta do meu tempo;
é forçoso do tempo já dar conta;
mas como dar, sem tempo, tanta conta,
eu que gastei, sem conta, tanto tempo?

Para ter minha conta feita a tempo,
dado me foi bem tempo e não fiz conta.
Não quis, sobrando tempo, fazer conta;
quero hoje fazer conta, e falta tempo.

Ó vos, que tendes tempo sem ter conta,
não gasteis vosso tempo em passatempo,
cuidai, enquanto é tempo, em fazer conta.

Ah! Se aqueles que contam com seu tempo
fizessem desse tempo alguma conta,
não choravam como eu, o não ter tempo...


Baseado neste famoso soneto, escrevi um no mesmo estilo:


VIDA  E  MORTE


Por certo existe vida após a morte,
e todo ser da morte torna à vida.
A vida amadurece para a morte;
da semente da morte brota a vida.

Em vida caminhamos para a morte,
sem saber que na morte há muita vida.
Em nossa curta vida há tanta morte,
e existem mortes que nos dão mais vida.

Em nossa eterna vida não há morte:
se toda morte anseia pela vida,
a vida se transcende pela morte.

E nesta dualidade morte-vida,
que a vida nos prepare para a morte,
e toda morte seja bem vivida!...

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