Talvez o vento saiba
Ivan Junqueira
Talvez o vento saiba dos meus
passos,
das sendas que os meus pés já não
abordam,
das ondas cujas cristas não
transbordam
senão o sal que escorre dos meus
braços.
As sereias que ouvi não mais
acordam
à cálida pressão dos meus
abraços,
e o que a infância teceu entre
sargaços
as agulhas do tempo já não
bordam.
Só vejo sobre a areia vagos
traços
de tudo o que meus olhos mal
recordam
e os dentes, por inúteis, não
concordam
sequer em mastigar como bagaços.
Talvez se lembre o vento desses
laços
que a dura mão de Deus fez em
pedaços.
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