domingo, 22 de novembro de 2015

Água-Forte - Manuel Bandeira

Água-Forte
Manuel Bandeira

O preto no branco,
O pente na pele:
Pássaro espalmado
No céu quase branco.

Em meio do pente,
A concha bivalve
Num mar de escarlata.
Concha, rosa ou tâmara?

No escuro recesso,
As fontes da vida
A sangrar inuteis
Por duas feridas.

Tudo bem oculto
Sob as aparências
Da água-forte simples:
De face, de flanco,
O preto no branco.


Água-Viva
 Marcos Nunes Filho
(Calcado em “Água-Forte”, de Manuel Bandeira.)

As trevas na luz,
A dor na ferida:
Ó fênix do sonho,
Teu céu me seduz.

Em meio da dor,
Amêndoas degusto
Num sumo violeta.
Quem é que Amará?!...

Até já nem meço
O sangue vertido.
Os deuses supremos
Jamais são feridos.

E tudo bem claro:
Futuras ciências,
Água-Viva louca...
No sonho da luz
As trevas na luz...

Nenhum comentário:

Postar um comentário