quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Marche aux Flambeaux – Cruz e Sousa (Parte 6)

Os vícios, as paixões, os crimes, ódios e erros,
na marcha, de roldão, caminham fraternais
com bandidos, vilões, burgueses rombos, perros
e focas e mastins, macacos e chacais.
Aos sobressaltos vão como visões, fantasmas,
bichos de toda a casta, anões de chapéu alto,
deixando em convulsão todas as almas pasmas
e o globo num tremendo e fundo sobressalto.
E nas praças, ao sol, confundem-se os bramidos,
os uivos com a expressão humana misturados,
através do sussurro e bruscos alaridos
das chacotas bestiais, dos risos trovejados.
E segue e segue e segue, a fora, légua a légua
essa marche aux flambeaux, ciclópica, estupenda
caminha atravessando um longo sol sem trégua,
um dia secular, um dia de legenda;
caminha atravessando um sol de foco aberto,
por um dia fatal, interminável, mudo,
o dia do remorso, aterrador, incerto
que em todo o coração crava um punhal agudo.
Mas eu quero assim mesmo, eu quero-vos assim,
em marcha tropical, à crua e ardente luz
que vos seja uma febre indômita, sem fim,
um cautério de fogo a vos queimar o pus
venéreo da Moral, cauterizando-o até
para que nunca mais se sinta dele a origem
nem volte, como sempre, então, a ser o que é,
deixando-vos no mundo inteiramente virgem;
eu quero-vos assim, de fachos apagados,
apagados, ao alto, os joviais flambeaux,
que os tereis de acender nos campos ignorados
que de sóis de Vingança a Eternidade arou.

E depois de vagar às sátiras de todos,
na evidência da luz, numa perpétua aurora;
de caminhar ao sol, por tremedais, por lodos,
no tédio do sarcasmo, o tédio que a devora,
essa Marcha afinal penetrará aos urros,
titânica, sinistra e bêbada, irrisória,
num caos de pontapés, coices, vaias e murros,
na eterna bacanal ridícula da História.

Nenhum comentário:

Postar um comentário