Numa pequena aldeia na Índia vivia um
Santo muito respeitado por todos, o qual residia numa cabana pobre, sendo
sempre procurado pelos aldeões, a quem ajudava da forma que podia. Um dia, para
a surpresa do Mestre, formou-se uma pequena multidão na porta de sua humilde
residência. Uma mocinha, à frente do grupo, trazia uma criança recém-nascida no
colo. Um ancião se adiantou e se dirigiu desta forma ao Guru:
- Viemos aqui vê-lo porque esta jovem
acusa o Senhor de ser o pai de seu filho. O que tem a dizer?
O Iogue olhou para a moça e percebeu
imediatamente qual a razão daquela acusação falsa: estava protegendo o
verdadeiro pai da ira dos seus conterrâneos. Reparou no inocente, a dormir nos
braços maternos, e sentiu imensa ternura por ele, percebendo que a Providência
Divina enviava de forma tão inusitada aquele frágil ser para que pudesse
exercitar de maneira mais intensa o seu Amor.
Olhando para o ancião que havia falado,
disse apenas isso:
- É mesmo?!...
Deu a seguir alguns passos e tirou o
filho do colo da mãe, olhando-a com compaixão e transmitindo-lhe uma mensagem
silenciosa de que cuidaria do bebê com todo o carinho, e que não se
preocupasse. Feito isto, deu as costas para a pequena multidão e entrou em casa.
Meses se passaram. O Santo cuidou do
recém-nascido com todo o desvelo e cuidado de que foi capaz. Apesar das imensas
dificuldades com uma tarefa imprópria para o sexo masculino, conseguiu uma
ama-de-leite para o “filho”, sendo também ajudado por um jovem discípulo, com
quem vivia.
Então, num certo dia, igualmente sem
aviso prévio, a mesma multidão se formou diante da casa do Guru. À frente do
grupo estava a mãe. O Mestre foi atendê-los, carregando nos braços a criança. O
ancião – aquele que havia falado anteriormente - tomou a palavra:
- Mestre, viemos aqui pedir-lhe sinceras
desculpas pelo terrível engano que cometemos. A jovem mãe desta criança
confessou para a aldeia que o Senhor não é o pai do seu filho. Nós lamentamos
profundamente...
O Santo disse apenas:
- É mesmo?!...
Deu alguns passos para a frente e colocou
o filho nos braços maternos, sorrindo-lhe compassivamente. Sem esperar qualquer
gesto ou comentário, retornou para o interior de sua casa, falando para seu
acólito, o qual havia assistido a tudo absolutamente perplexo:
- O que está lhe causando tanta
estranheza? Você não sabe que as teias da vida são a mais pura maia? Tudo não
passa de ilusão. Menos o Amor e a Compaixão, meu filho!... Só eles são reais.
- Mas, Mestre, tudo que aconteceu foi
muito injusto!... Como pode ter aceito?...
- Eu não aceitei a mentira e a injustiça,
se é isto que está pensando. As razões dos gestos alheios não me dizem
respeito. A única coisa que eu aceitei foi o Amor, entrando em minha vida de
modo tão inesperado e maravilhoso! Da mesma forma como aceitei me libertar
deste Amor, que poderia se transformar em apego. Compreende?
- Sim, compreendo.
Encerrado o diálogo, discípulo e Mestre
voltaram à antiga rotina diária, quando o Amor ainda não havia se hospedado em
sua casa na forma de um recém-nascido.
(História lida por mim anos atrás, mas de
cuja fonte não me recordo.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário