segunda-feira, 2 de novembro de 2015

O Santo, a Mãe, o Bebê e o Amor

      Numa pequena aldeia na Índia vivia um Santo muito respeitado por todos, o qual residia numa cabana pobre, sendo sempre procurado pelos aldeões, a quem ajudava da forma que podia. Um dia, para a surpresa do Mestre, formou-se uma pequena multidão na porta de sua humilde residência. Uma mocinha, à frente do grupo, trazia uma criança recém-nascida no colo. Um ancião se adiantou e se dirigiu desta forma ao Guru:
      - Viemos aqui vê-lo porque esta jovem acusa o Senhor de ser o pai de seu filho. O que tem a dizer?
      O Iogue olhou para a moça e percebeu imediatamente qual a razão daquela acusação falsa: estava protegendo o verdadeiro pai da ira dos seus conterrâneos. Reparou no inocente, a dormir nos braços maternos, e sentiu imensa ternura por ele, percebendo que a Providência Divina enviava de forma tão inusitada aquele frágil ser para que pudesse exercitar de maneira mais intensa o seu Amor.
      Olhando para o ancião que havia falado, disse apenas isso:
      - É mesmo?!...
      Deu a seguir alguns passos e tirou o filho do colo da mãe, olhando-a com compaixão e transmitindo-lhe uma mensagem silenciosa de que cuidaria do bebê com todo o carinho, e que não se preocupasse. Feito isto, deu as costas para a pequena multidão e entrou em casa.
      Meses se passaram. O Santo cuidou do recém-nascido com todo o desvelo e cuidado de que foi capaz. Apesar das imensas dificuldades com uma tarefa imprópria para o sexo masculino, conseguiu uma ama-de-leite para o “filho”, sendo também ajudado por um jovem discípulo, com quem vivia.
      Então, num certo dia, igualmente sem aviso prévio, a mesma multidão se formou diante da casa do Guru. À frente do grupo estava a mãe. O Mestre foi atendê-los, carregando nos braços a criança. O ancião – aquele que havia falado anteriormente - tomou a palavra:
      - Mestre, viemos aqui pedir-lhe sinceras desculpas pelo terrível engano que cometemos. A jovem mãe desta criança confessou para a aldeia que o Senhor não é o pai do seu filho. Nós lamentamos profundamente...
      O Santo disse apenas:
      - É mesmo?!...
      Deu alguns passos para a frente e colocou o filho nos braços maternos, sorrindo-lhe compassivamente. Sem esperar qualquer gesto ou comentário, retornou para o interior de sua casa, falando para seu acólito, o qual havia assistido a tudo absolutamente perplexo:
      - O que está lhe causando tanta estranheza? Você não sabe que as teias da vida são a mais pura maia? Tudo não passa de ilusão. Menos o Amor e a Compaixão, meu filho!... Só eles são reais.
      - Mas, Mestre, tudo que aconteceu foi muito injusto!... Como pode ter aceito?...
      - Eu não aceitei a mentira e a injustiça, se é isto que está pensando. As razões dos gestos alheios não me dizem respeito. A única coisa que eu aceitei foi o Amor, entrando em minha vida de modo tão inesperado e maravilhoso! Da mesma forma como aceitei me libertar deste Amor, que poderia se transformar em apego. Compreende?
      - Sim, compreendo.
      Encerrado o diálogo, discípulo e Mestre voltaram à antiga rotina diária, quando o Amor ainda não havia se hospedado em sua casa na forma de um recém-nascido.

      (História lida por mim anos atrás, mas de cuja fonte não me recordo.)

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