quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Os Sete Fôlegos do Gato - Carlos Décio Mostaro

OS  SETE  FÔLEGOS  DO  GATO

Carlos Décio Mostaro
(Juiz de Fora-MG)

Sete vidas eu tivera,
sete vidas te daria.
Na primeira eu seria
a criança.
E te daria
uma falsa aliança,
o meu doce preferido,
meu brinquedo mais querido.
E brincando de doutor,
com muito amor
perguntaria: - Dói aqui?
- Aqui não dói não.
- Onde dói?
- No coração.

Na segunda eu seria
o teu colega estudante
que na aula, a cada instante,
te olharia.
Eu levaria o teu caderno,
usaria um belo terno,
pra chamar tua atenção.
E quando, na solidão,
a saudade eu sentisse
e na memória te visse
nua de corpo inteiro...
- eu me masturbaria no banheiro.

Na terceira, o casamento.
Nosso esperado momento.
A nossa Lua seria
não de Mel, mas, Di-amantes,
de tanto que eu te daria.
Embrulhado em suor,
teus gemidos beberia,
e no teu calor
me consumiria,
até que o amor não mais durasse.
E o que de mim inda sobrasse,
te ofertaria.

Na quarta, eu provaria
que há sempre um amor segundo
para quem perde o primeiro.
E até mais profundo
e mais certeiro.
E novamente te amaria
com duplo ardor,
sem hipocrisia,
inda que nos teus olhos eu visse
os da primeira,
e na tua boca sentisse
a verdadeira.

Na quinta vida,
o reencontro com a infância,
que depois de tantos anos,
desenganos,
volto a encontrar.
Novamente eu daria o coração
e veria atrás das rugas,
do culote e celulite,
o mesmo ite
da menininha, minha vizinha.
E juraria novamente
amá-la eternamente.

Na sexta, bruxuleante,
já quase chegando ao fim,
mas, ainda a fim,
eu te amaria na figura
de um broto estonteante,
que de mini-saia, comigo desfilaria,
mesmo debaixo da vaia
dos parentes descontentes,
dos amigos inconformados,
dos carentes,
dos aposentados do amor.
E o teu calor aqueceria minha vida,
trazendo esperança
àquela falsa aliança
que no meu dedo, desbotada,
era sinônimo de nada.

A sétima vida seria
a que te ofertaria
na figura de todas as mulheres.
Amaria cada uma
sem distinção
de fígado, estômago ou coração,
de raça, credo ou cor.
O importante seria
o meu amor multiplicado,
que num derradeiro espasmo
eu te daria.
Um amor feito arte,
que, misturado ao infarte,
te inundaria.
E num último pizicato,
morreria o teu gato.

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