quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Círculo Vicioso - Machado de Assis

         CÍRCULO VICIOSO

         Machado de Assis

         Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:
         - “Quem me dera que fosse aquela loura estrela,
         Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!”
         Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:

         - “Pudesse eu copiar o transparente lume,
         Que, da grega coluna à gótica janela,
         Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela!”
         Mas a lua, fitando o sol, com azedume:

         - “Mísera! tivesse eu aquela enorme, aquela
         Claridade imortal, que toda a luz resume!”
         Mas o sol, inclinando a rútila capela:

         - “Pesa-me esta brilhante auréola de nume...
         Enfara-me esta azul e desmedida umbela...
         Por que não nasci eu um simples vaga-lume?”


         (“Poesias Completas”, Machado de Assis, Editora Civilização Brasileira S.A., Rio de Janeiro, INL, Brasília, 2ª edição, 1977, página 446.)

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