terça-feira, 10 de novembro de 2015

Marche aux Flambeaux – Cruz e Sousa (Parte 5)

Gargalhadas abri a rubra flor sangrenta
da humanidade vã na amargurada boca,
vai agora passar a marcha truculenta
sob o espingardear duma ironia louca.
E desfila e desfila em becos e vielas
e torna a desfilar por vielas e por becos,
às risadas da turba, estultas e amarelas
que têm o áspero som de gonzos perros, secos...
E desfila e desfila, estrídula e execranda,
das praças na amplidão, rugindo em mar desfila,
enquanto além dardeja, heroica e formidanda,
a metralha do sol que rútilo fuzila...
E mastodontes vão de braço dado a sérios
burgueses que já são bem bons comendadores
e marqueses de truz, com ares de mistérios,
de lunetas gentis e aspectos sonhadores
dão o braço fidalgo e airoso das nobrezas
aos ursos boreais, enquanto os conselheiros,
os condes, os barões, os duques e as altezas
lá vão de braço dado aos lobos carniceiros.
E nessa singular, atroz promiscuidade,
animais e truões de catadura suína,
gordalhudos heróis da infâmia e da maldade,
vendidos da honradez, velhacos de batina,
bobos, cães, imbecis, humanos crocodilos
e déspotas, jograis, todos os miseráveis
de todas as feições e todos os estilos,
uns aos outros lá vão jungidos, formidáveis!...
Mas a marche aux flambeaux derrama um pesadelo,
a agonia dum tigre, em sonhos, sobre um ventre,
agonia mortal que envolve tudo em gelo...
E desfila e desfila entre sarcasmos e entre
as sátiras-fuzis, relampejando açoite,
por essa imensa aurora, estranhamente imensa
por um sol que angustia e que não tem da noite
para a Miséria a sombra atenuante e densa.

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