segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Majestade Caída - Cruz e Sousa

MAJESTADE  CAÍDA


Cruz e Sousa

Esse cornóide deus funambulesco

Em torno ao qual as Potestades rugem,
Lembra os trovões, que tétricos estrugem,
No riso alvar de truão carnavalesco.

De ironias o momo picaresco
Abre-lhe a boca e uns dentes de ferrugem,
Verdes gengivas de ácida salsugem
Mostra e parece um Sátiro dantesco.

Mas ninguém nota as cóleras horríveis,
Os chascos, os sarcasmos impassíveis
Dessa estranha e tremenda Majestade.

Do torvo deus hediondo, atroz, nefando,
Senil, que embora rindo, está chorando
Os Noivados em flor da Mocidade!

(“Cruz e Sousa – Obra Completa”, Editora Nova Aguilar S.A.,
Organização de Andrade Murici, Atualização e Notas de Alexei Bueno,
Rio de Janeiro, 2000, páginas 92-93.)


Série "Diabolu In Versus".

Nenhum comentário:

Postar um comentário