domingo, 30 de agosto de 2015

Nostalgia do Céu - Venceslau de Queirós

NOSTALGIA  DO  CÉU 

Venceslau de Queirós
(1865-1921)

Ei-lo que sonha, triste e só... Que estranho augúrio

A alma te agita, Arcanjo Negro? Que magia,
Que sortilégio, à dura abóbada sombria,
No Orco, te prende o chamejante olhar sulfúreo?

Que encantamento cabalístico assedia
Tua cabeça? Em que palácio, em que tugúrio,
À evocação de Grande Mago, no perjúrio
Presa ficou tua infernal figura esguia?

Nada de mais... Lembra Satã a imensa Queda
No boqueirão da Eterna Sombra que lhe veda,
Eternamente, eternamente, ver os céus...

Punge-o a saudade, a nostalgia, a funda mágoa
De estar (Satã já tem os olhos rasos d’água!)
Longe da Luz, longe do Azul, longe de Deus!

(“Panorama do Movimento Simbolista Brasileiro”, Andrade Muricy,
MEC-INL, 2ª edição, Volume I, Brasília, 1973,

Coleção de Literatura Brasileira, 12, página 281.)


Série "Diabolus In Versus".

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