MEU
LIVRO NO SEBO
(Carta a Floriano Lopes)
(O Autor ofereceu, com sincera
dedicatória, o seu livro de trovas ao velho amigo Floriano Lopes. Tempos
depois, percorrendo uma casa de livros usados, lá encontrou o volume, com
dedicatória e tudo. Comprou-o e, sob a primitiva, pôs esta nova dedicatória:
“Ao Floriano Lopes, com a insistência do Rangel Coelho”). E remeteu-lhe o
livro, acompanhado da seguinte carta:
Meu
querido Floriano. Um grande abraço.
Nesta
carta apressada, que lhe faço,
venho
contar-lhe a história algo bacana,
com
que me diverti nesta semana.
Velho
frequentador de livrarias,
encontrei
numa delas, há três dias,
o
meu livro de trovas – joia rara –
que,
quando veio a lume, eu lhe ofertara.
Conhecendo
você, logo percebo
que
se meu livro foi parar no sebo,
a
culpa não foi sua. Com certeza,
algum
larápio, cheio de esperteza,
o
retirou aí de sua estante
e
se desapertou, passando-o adiante.
Quis
o destino que, de face a face,
na
velha livraria eu o encontrasse
em
meio de outros livros – coitadinho! –
como
um canário que perdesse o ninho.
Encontrei-o,
comprei-o. E, renitente,
ofereço-lhe
agora, novamente,
certo
de que você, mais precavido,
para
evitar os furtos de um sabido,
o
guardará, visando a melhor sorte,
num
cofre de aço ou numa caixa forte,
ou
que talvez o ponha no seguro
contra
possíveis roubos no futuro.
Conserve-o,
caro amigo, sem desdouro,
como
se se tratasse de um tesouro,
pois
meu livrinho, embora obra bisonha,
guarda
os sonhos de um velho que ainda sonha,
de
um velho-moço, de um senil-mancebo
que,
por ser limpo, tem horror ao sebo.
E
aqui fica, depois deste conselho,
seu
amigo de sempre
Rangel
Coelho.
(“Meu Barro Municipal”, Rangel Coelho, Arsgráfica
Editora Ltda., Duque de Caxias, RJ, 1977, página 149.)
George Bernard Shaw encontrou certo dia um dos seus livros numa loja de livros usados de Londres. Ficou surpreso ao encontrar uma sua dedicatória no interior do livro. Shaw tinha-o oferecido "com muita estima" a um dos seus amigos. Comprou o volume imediatamente, embrulhou-o e enviou-o novamente, depois de ter acrescentado uma segunda dedicatória: "Com renovada estima, George Bernard Shaw".
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