quarta-feira, 9 de setembro de 2015

A Escrava do Dinheiro - Patativa do Assaré (Parte 1)

A escrava do dinheiro
(Regina larga o marido pobre pra ficar com um rico)

Patativa do Assaré

(Parte 1)

Boa noite, home e menino
E muié deste lugá!
Quero que me dê licença
Para uma histora contá.
Como matuto atrasado
Eu dêxo as língua de lado
Pra quem as língua aprendeu,
E quero a licença agora
Mode eu contá minha histora
Com a língua que Deus me deu.

Mas ante de eu começá,
Eu premeramente vou
Dizê que que o dinheiro é
O maió trensformadô,
Apois sabe o mundo intero
Que este bichinho dinhêro,
Com sua força e podê,
A sua mancha, o seu jeito,
Tem feito munto sujeito
Sisudo se derretê.

Dinhêro trensforma tudo,
Dinhêro é quem leva e trás,
Eu nem quero nem dizê
Tudo o que dinhêro faz.
Apenas aqui eu conto
Que ele pra tudo tá pronto,
Ele é cabrero e treidô,
É carrasco e é vingativo,
Só presta pra ser cativo,
Não presta pra ser senhô.

A pessoa neste mundo
Bota o pé na perdição
Quando ela dêxa o dinhêro
Gonverná seu coração.
Pra o povo que tá me uvindo
Não dizê que tou mentindo
Eu vou agora contá
Uma histora pequenina,
A histora de Regina,
Pra ninguém me duvidá.

Regina era minha noiva,
Meu amô, minha inlusão,
A morena mais bonita
Do meu querido sertão.
Seus grandes óio perfeito
Fazia quarqué sujeito
Tropeçá no brocotó,
Era vê no mês de maio
Dois grande pingo de orvaio
Tremendo na luz do só.

Os seus laibo era corado
Como a cera da cupira,
A fala tinha a doçura
Do favo da jandaíra.
O nariz bem afilado,
Cabelo preto e anelado,
Da cô da pena do anum.
Todos que conheceu ela
Dizia que era a mais bela
Do sertão dos Inhamun.

E era mêrmo a mais bonita,
Quem conheceu inda diz,
Ela tinha a perfeição
Da Santa lá da Matriz
Quando na festa se enfeita.
Se as mão dela era bem feita,
Mais bem feito era os seus pé,
Vocemincêis pode crê:
Valia a pena se vê
Essa franga de muié.

Mas dêrna de eu pequenino
Que eu oiço o povo dizê
Que no mundo um bom sem farta
Não houve, nem pode havê.
Pra que coisa mais formosa,
Mais bonita e luminosa
De que a pinta da corá?
Mas ela tem um veneno
Que mata o grande e o pequeno,
Triste do que ela pegá!

Ninguém lê nos coração,
E este mundo é um imbé,
Onde o cabra engole delas
Que o diabo enjeita e não qué.
Muitas coisa se padece
Só porque ninguém conhece
No mundo véio, infeliz,
Onde é que a bondade mora;
Às vez, o que é bom por fora
Por dentro não vale um xis.

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