TÚMULO DE BAUDELAIRE
Eduardo Guimaraens
(1892-1928)
Um anjo, que possui uma espada de
chama,
hirto e pálido, à fronte um halo
virginal,
guarda o Túmulo, junto ao mármore
imortal,
a que o Poeta desceu, cego de luz
e lama.
Outro, que às mãos desfralda o
ardor de uma auriflama,
olha, cismando, o azul profundo
como o mal;
e Lúcifer, enfim, magnífico e
fatal,
tem à boca a revolta em que a
blasfêmia clama.
Entre a aridez da terra e a
solidão noturna,
fundo abismo, do espaço ao
lúgubre esplendor,
fendem-se do Desejo as largas
fauces de urna.
E as Danaides, de aspecto
envelhecido e eterno,
tentam encher em vão esse tonel
de horror!
Ora, lá dentro, o Céu! Uiva, lá dentro,
o Inferno!
(“Panorama do
Movimento Simbolista Brasileiro”, Andrade Muricy,
MEC-INL, 2ª edição,
Volume II, Brasília, 1973,
Coleção de Literatura
Brasileira, 12, página 1013.)
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