quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Túmulo de Baudelaire - Eduardo Guimaraens

TÚMULO  DE  BAUDELAIRE 

Eduardo Guimaraens
(1892-1928)

Um anjo, que possui uma espada de chama,
hirto e pálido, à fronte um halo virginal,
guarda o Túmulo, junto ao mármore imortal,
a que o Poeta desceu, cego de luz e lama.

Outro, que às mãos desfralda o ardor de uma auriflama,
olha, cismando, o azul profundo como o mal;
e Lúcifer, enfim, magnífico e fatal,
tem à boca a revolta em que a blasfêmia clama.

Entre a aridez da terra e a solidão noturna,
fundo abismo, do espaço ao lúgubre esplendor,
fendem-se do Desejo as largas fauces de urna.

E as Danaides, de aspecto envelhecido e eterno,
tentam encher em vão esse tonel de horror!
Ora, lá dentro, o Céu! Uiva, lá dentro, o Inferno!

(“Panorama do Movimento Simbolista Brasileiro”, Andrade Muricy,
MEC-INL, 2ª edição, Volume II, Brasília, 1973,
Coleção de Literatura Brasileira, 12, página 1013.)


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