quinta-feira, 10 de setembro de 2015

A Escrava do Dinheiro - Patativa do Assaré (Parte 2)

A escrava do dinheiro
(Regina larga o marido pobre pra ficar com um rico)

Patativa do Assaré


Regina tinha um defeito
Que eu não posso perdoá:
Era escrava do dinhêro,
Era toda de metá...
Quando ela às vez me falava
No luxo que desejava
Pulsêra, colá, cordão,
Vestido de seda e crepe,
Era mêrmo que uns estrepe
Furando em meu coração.

Ora, sendo eu um cabôco
Dos mato, assim como sou,
Que só pissuo uma roça
E um cavalo corredô,
Quando essas coisa escutava
Meu juízo latejava
Num reboliço sem fim.
Não acabava o noivado
Porque tava enraizado
Esse amô dentro de mim.

Eu tava loco de amô,
Queria mêrmo casá.
Já tinha inté perparado
A casa pra nós morá.
O pai dela e seus parente
Já tava tudo ciente
Da nossa santa união.
O povo todo sabia
Que nós casava no dia
Do mártir Sebastião.

Vinha chegando janêro,
Era vespra de Natá;
Foguete de toda sorte
Subia rompendo o á;
A meninada em folia
Brincando se divertia
Com traque, com buscapé,
E as moça e seus namorado,
Cada quá mais animado
Rodava nos carrocé.

Os cabôco mais farrista
Devorava aqui e ali
Um tragozinho gostoso
De cana do Cariri.
E o beato Zé Perêra
Com as muié rezadêra
E as outra famia de bem,
Todos de prazê repreto
Perparava os objeto
Da lapinha de Belém.

Eu era naquele dia
O mais feliz do sertão;
Passeava com Regina
Segurado em sua mão,
E era por este respeito
Que eu tava bem satisfeito,
Alegre como xexéu
Na cajazêra cantando
Quando o só vem apontando,
Beijando as nuve do céu.

Mas é certo aquele dito
Dos véio antigo de atrás:
Que o cão não come nem bebe
Senão das arte que faz.
Naquela noite de festa
Eu vi o diabo de testa,
Coisa de fazê tremê,
E embora forte e disposto
Senti o maió desgosto
Que o home pode sofrê.

Chegou num carro de luxo,
Mandado não sei por quem,
Um desses home perdido
Que este nosso mundo tem,
Todo pronto, engruvatado,
Não sei por quem foi mandado
Aquele crué dragão,
Que chegou ali somente
Mode entristecê a gente
Daquela povoação.

Pelo jeito parecia
Que o sujeito era ricaço,
Tinha um relojo no peito
E ôto na cana do braço,
E mais ôtas fantasia,
Na hora que ele se ria
A boca era ôro só,
E além dos ôro dos dente,
Uma bonita corrente
Na gola do palitó.

Era alinhado devera
Aquele rico freguês,
Uns três anelão no dedo,
No nariz uns pichinez;
Não pude sabê seu nome,
Nem tombém sube aquele home
Aonde era moradô.
Só sei que quando falava,
Na sua conversa dava
As parença de um dotô.

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