sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Do partido do diabo - Aldous Huxley

      “O lugar do poeta, parece-me, é entre os Srs. Hydes da natureza humana. Ele deve ser, como observou Blake a respeito de Milton, ‘do partido do diabo sem o saber’ – ou, preferivelmente, com a plena consciência de ser do partido do diabo. Já há tantos anjos intelectuais e morais, batalhando pelo racionalismo, pela boa cidadania e pela espiritualidade pura; há os tantos e tão eminentes, loquazes e autoritários! O pobre diabo que está no homem necessita de todo o apoio e de toda defesa que possa arranjar. E o artista é que é seu defensor natural. Quando um artista deserta e se passa para o lado dos anjos, dá-se a mais odiosa das traições. Tolstoy, por exemplo, como é imperdoável! Tolstoy, o Sr. Hyde perfeito, a mais completa encarnação, como jamais existiu outra, da vida instintiva, não-moral e não-intelectual – Tolstoy, que traiu sua própria natureza, traiu também a arte e traiu a vida em si mesma, para lutar contra o partido do diabo de suas antigas simpatias, sob o pálio do Dr. Jesus-Jekyll.”

      (“Satânicos e Visionários”, de Aldous Huxley, Companhia Editora Americana, Rio de Janeiro, 1975, Páginas 83-84.)

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