quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Bichobrás - Roberto Medeir

Bichobrás
Roberto Medeiros
(Juiz de Fora – MG)

Eméritos Julgadores:

Para ruir ato lesivo
Ao patrimônio afetivo,
Histórico e cultural,
Como qualquer cidadão
Proponho a presente ação
Neste egrégio Tribunal.

Tem fomento tal matéria,
Polêmica, pouco séria
Que a “Ordem e Progresso” estagna,
No artigo 5º, e tem vez,
No inciso setenta e três,
Nos termos da Carta Magna.

Vamos ao fato e ao direito,
O que faço com respeito
A Drumond, o tal Barão,
Que no tapa e por capricho
Criou o “Jogo do Bicho”
Sem nenhuma inspiração.

Oito bichos estrangeiros
Peitaram os brasileiros
Sem sequer um comentário:
Águia, avestruz, tigre, leão,
Elefante, urso, pavão,
Camelo – que dromedário!

À burrice ele se inclina
Ao ponto que discrimina
E uma só raça destaca,
Sem ver que aos bichos humilha
Quando contempla a família
De alma vacum: touro e vaca.

E instaura um concubinato:
Entre a cabra e “aquele” gato,
Da “tal” águia com o galo,
Entre a avestruz e o elefante,
Do veado com o cavalo,
Entre o urso e outro mutante!

A gente humilde que sabe,
Não quer que o jogo se acabe
Pois faz nele a sua fé...
Quem por mulher tem rabicho,
Em vez de “matar o bicho”,
Mantém o “bicho de pé”.

Um jogo alegre, risonho,
Que se guia em cada sonho
De milhões de apostadores...
Sem limite e sem demora,
O seu prêmio é pago na hora
Pelos próprios corretores.

A banca da bicharada
Uma vez estatizada
Não seria um ato cômico.
Privatizada, é um risco,
Seu dinheiro fica arisco
Como no Banco Econômico.

Se é certo que nosso povo
Troca o velho pelo novo
Porque bem sabe o que faz,
Requer que o “jogo” afinal,
Seja também estatal
E se chame “Bichobrás”.

Tal qual as que têm escudo:
- Super-Sena, Papa-Tudo,
Raspadinha, Loto, Quina,
As corridas de cavalos,
O Bingo e demais badalos
Que o Governo já domina.

Nas “Lotecas” oficiais
Nunca surgem policiais
“Protegendo” ou “criando” vítimas.
E nem tão pouco políticos,
Anões ou apenas raquíticos,
Com propostas ilegítimas.

Se os jogos estatizados
São por números marcados
Do mesmo modo, em cartão,
Por que somente o “zoológico”,
Por ato de força e ilógico,
Tem que ser contravenção?!

Talvez – quem sabe? – o Congresso
Ponha fim neste processo
Se tiver conhecimento...
Se assim fiz “foi porque fi-lo”!
Com as cautelas de estilo,
Espero deferimento.

(O Bicho é nosso
ou
Opções abichescadas)

01 – ABELHA
Palpite é como zumbido
Que quando bate na orelha,
Enche tanto o nosso ouvido
Que a gente ferra na ABELHA.

02 – BODE
Se o bicheiro, por capricho
Banca até o que não pode,
Se um cabra acerta no bicho
Sempre acaba dando BODE.

03 – BURRO
De segunda-feira à sexta
Certo “jegue” dava murro,
Mas, deixando de ser besta
Lavou a égua no BURRO.

04 – BORBOLETA
Sua sorte não renegue
Quando a coisa fica preta,
Sua esperança carregue
Nas asas da BORBOLETA.

05 – CACHORRO
Se o seu mundo é um mundo-cão
Procure logo um socorro
Anotando em seu talão
A sua fé no CACHORRO.

06 – COBRA
Quando a vida te envenena
Em rastejante manobra,
Dê um bote na centena
Na cabeça, acerte a COBRA.

07 – CARRAPATO
Em casa, se pesa a barra
E o credor é muito chato,
Quem tem garra sempre agarra
No grupo do CARRAPATO.

08 – CORUJA
Das fases de mau agouro
Não há, amigo, quem fuja...
O mapa da mina de ouro
Quem de... cifra é a CORUJA.

09 – GAMBÁ
De cara cheia, sem norte,
Mais pra lá do que pra cá,
Quem vai no cheiro da sorte
Sempre acerta no GAMBÁ.

10 – GATO
Sem cigarro, sem dinheiro
E sem angu no seu prato,
Faça um vale no bicheiro
E mande brasa no GATO.

11 – GALO
Faltando milho e algo mais
E estando a vida a engasgá-lo,
Ponha todos seus reais
No passe duplo do GALO.

12 – LAGARTIXA
Paredes acima e abaixo
Ao ver a sorte tão “mixa”
Acerte, dando de macho,
Na mosca da LAGARTIXA.

13 – MACACO
Na miséria que machuca
Para sair do buraco,
Quem mete a mão em cumbuca
Tira a pedra do MACACO.

14 – MINHOCA
No mar da vida, sem isca,
Quem a sorte não convoca,
Mal pega o salário e arrisca
Num dos lados da MINHOCA.

15 – ONÇA
Quem nunca jogou no bicho,
Nem entende a geringonça,
Vendo a sogra, por capricho,
Sem dó, carrega na ONÇA.

16 – PAPAGAIO
Amigo, para ser franco,
Só pode pagar o raio
Do “papagaio” no Banco,
Quem joga no PAPAGAIO.

17 – PIOLHO
Cuca fundida, zarolho,
Amigo, não se aborreça...
Jogue todo o seu restolho
Que dá PIOLHO na cabeça.

18 – PIRANHA
Depois de tanta façanha
Que a sorte não mais deplore:
Coma o rabo da PIRANHA
Antes que ela te devore.

19 – PULGA
Esta verdade patente
No jogo não se divulga:
Se a PULGA pica na gente
A gente ferra na PULGA.

20 – PERU
Não viva só na dureza
Quebre, amigo, esse tabu:
Se um dia tiver fraqueza
Se assegure no PERU.

21 – SAPO
Se o seu dinheiro se acaba,
Se a vida está por um trapo,
Faça jus àquela “baba”
Mesmo que seja de SAPO.

22 – SABIÁ
Um só palpite fará
Que a tristeza desintegre:
Sabia que o SABIÁ
Emite uma “nota” alegre?

23 – URUBU
Se exorcisas um vodu
Em luta de vida e morte,
Mande chumbo no URUBU,
Senão pousa em tua sorte.

24 – VAGALUME
Bem mais que o veado capricha
Outro “boiola” de peso...
O VAGALUME é uma bicha
Que já traz o rabo aceso.

25 – VACA
Esta “fezinha” aproveite
Para pôr um fim na inhaca,
Encha seu balde de leite
Nas gordas tetas da VACA.

Nenhum comentário:

Postar um comentário