segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Trovas Classificadas - Roberto Medeiros

Trovas Classificadas
Roberto Medeiros
(Juiz de Fora – MG)

Não há criança vadia...
E as que esmolam a teus pés,
São anjos que Deus envia
Para saber quem tu és.

Liberdade, a tua essência
Sempre exerce este fascínio:
- Quem viveu tua existência
Não suporta o teu declínio.

Dentre os mais belos conselhos,
Faço deste a minha fé:
- “A ter que viver de joelhos,
Prefiro morrer de pé”.

Pobre de quem, por conforto
A tudo o mais renuncia:
- Há sempre um poeta morto
Num homem sem fantasia.

“A bolsa ou a vida”, eu ouço
E retruco as ironias:
- Que leve as duas, seu moço,
Pois ambas estão vazias.

A fantasia, acredito,
Pelo toque de abstrato,
É verso por Deus escrito,
Oculto no anonimato.

Teu Dia, Mãe, se reveste
Dos remorsos que chorei:
Pelo muito que me deste,
Pelo pouco que te dei.

Quando a alma se condena
No Tribunal da Saudade,
A solidão é a pena
Que se cumpre em liberdade.

Ferido por teu desprezo
Nesta noite sem carinho,
Sou igual cigarro aceso,
Que vai queimando sozinho.

Esquiva, assim como as garças,
Tu foges ao meu afago,
Deixando “penas” esparsas
Na solidão do meu lago.

Não faz falta em meu arquivo
O seu retrato, querida:
- A saudade é o “negativo”
Que guardo por toda vida.

Um anjo, doce criança,
Com seu encanto e magia,
Transformou numa aliança
Nosso anel de fantasia.

Meus avós dizem sorrindo:
Nem só o pólen dá flor:
- Ternura é seiva nutrindo
O galho seco do amor.

Não se deve esperar nada
Em paga de boa ação:
- Ainda não foi cunhada
A moeda da gratidão.

Nosso amor – estranho jogo
Entre o sonho e o pesadelo:
Se ora queima como fogo,
Ora esfria como gelo.

A trova é como a criança
Que de colo em colo vai,
Quanto mais glórias alcança
Menos se lembra do pai.

Se indagas por novidade,
Constrangido, amor, te digo:
Em tua ausência a saudade
Resolveu casar comigo.

Se teu cais não mais te ancora,
Se te falta a estrela-guia,
Vai coração, mar afora,
Ao sopro da fantasia.

Qualquer que seja o sabor
Ou modo que se apresente,
O beijo é gota de amor
Que hidrata a alma da gente.

Parece o teu coração
Com plataforma de trem,
Que mal despede os que vão
Para abrigar os que vêm.

A vizinha quer saber
Porque, prudente, me escondo:
- Jamais se deve mexer
Em caixa de marimbondo.

Se o dia acorda avarento
E me recusa um bom-dia,
Eu peço carona ao vento
E pouso na fantasia.

Um ébrio, mal o distingo
Da chuva que vem e vai:
- Ela cai de pingo em pingo,
De pinga em pinga, ele cai.

De derrame cerebral
A morte não se lastima:
- Que sorte descomunal
Te faltar matéria-prima.

Esquisito se faz troça
Cheirando a naftalina:
Quando afina... a voz engrossa,
Quando “engrossa”... a voz afina.

O imbecil galvanizado
Que proclama seu talento...
- Ou já nasceu retardado
Ou fez depois treinamento.

Vinte e cinco de Dezembro...
Natal – meu mundo encantado –
Com que ternura me lembro
Dos “presentes” do passado.

Quem semeia, na alvorada,
Sem a terra bendizer,
Mais tarde não colhe nada
Que valha a pena colher.

Se prometemos a miúdo,
Não mais brigarmos, amada,
Se o amor para nós é tudo
Por que brigamos por nada?

As trovas, quando brejeiras,
São abelhas encantadas:
- Diligentes recadeiras

Das flores apaixonadas.

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