Palavra!...
Roberto Medeiros
(Juiz de Fora – MG)
“No princípio era o verbo.” (João 1:1)
A palavra proferida
Pela ausência de razão
Que abre ferida e alçapão,
É volúvel, arbitrária,
A labareda incendiária
Que calcina a nossa vida.
A palavra da mentira
Se descolore no choro
Que transpira o mau agouro
E corrói qualquer imagem,
Ela amedronta a coragem
E afia as farpas da ira.
A murmurada com mágoa,
É impressa pelo amor
Já que deságua na dor,
Nossa voz se torna rouca,
Ressequida em nossa boca
E os olhos imersos n’água.
A palavra da ironia,
De soberba no sobejo,
Com agonia eu só vejo
Que bate de ricochete
E volta como foguete
Por sobre a nossa harmonia.
A ditada pelo medo,
Receio, susto, terror,
Faz segredo do clamor...
É pau-a-pique, argamassa,
O alicerce da desgraça
Calcando um falso rochedo.
A palavra modulada
Nas cordas da dicção
E abrigada na emoção,
É como um algo que medra
E acaba virando pedra
Para em nós ser atirada.
A fraudada, com minúcia,
Pelo ardil, agarra-pé,
Pela argúcia da má-fé,
De tudo ela faz um todo,
Da verdade, um só engodo
E da lealdade, uma astúcia.
Porém, a que vem do amor
Na forja do bem-querer,
Cheira à flor no alvorecer:
- É semente que dá vida
A uma alegria incontida
Numa aragem de esplendor.
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