sábado, 9 de janeiro de 2016

Id ao Ego - Roberto Medeiros

Id ao Ego
Roberto Medeiros
(Juiz de Fora – MG)

Certa amiga muito gente,
Até quando eu a conheço,
Tem um “quê” de diferente
Que nos vira pelo avesso.
Variações e nuances mis
Na esteira do seu embalo,
Detalhes, os mais sutis,
Como estes que assinalo:

Ela não pensa, matuta;
Ela não olha, ela espia;
Ela não joga, disputa;
Não começa, principia;
Ela não teima, ela empaca;
Ela não benze, faz figa;
Ela não percebe, saca;
Ela não dorme, desliga;
Ela não anda, faz “cooper”;
Ela não corre, dispara;
Ela não é forte, é super;
Ela não ajuda, ampara;
Não é irmã, é maninha;
Ela não discute, ensina;
Ela não ouve, adivinha;
Ela não vê, imagina;
Ela não se apressa, urge;
Não desperta, ela amanhece;
Ela não chega, ela surge;
Não se vai, desaparece.

E assim fez a tal amiga
Com seu jeito irreverente...
Quanto mais a gente briga,
Tanto mais se faz presente.
Para ela se precaver
Vai aqui este recado;
O seu modelo de ser
Já foi por nós adotado:

- Não despede, ela exorciza;
Não é orgulho, é vaidade;
Não encanta, hipnotiza;
Não é lembrança, é saudade.

O QUE TU ÉS PARA MIM:
- Pulsar do meu coração,
O meu tintim por tintim,
Minha mão na contra-mão,
A santa do meu altar,
A rima do meu poema,
O bem do meu mal-estar,
Solução do meu problema.

Coringa do meu baralho,
Antena do meu ouvido,
A folga do meu trabalho,
O meu drinque preferido,
Estrela da minha noite,
Uva da minha parreira,
Vigília do meu pernoite,
Meu livro de cabeceira.

O vento do meu moinho,
A seqüência do meu hiato,
Roteiro do meu caminho,
Perfume do meu olfato,
Gol de placa do meu craque,
Corda da minha caçamba,
Da minha escola, o destaque,
A cadência do meu samba.

O Gelol da minha dor,
A razão da minha fé,
Meu beijo de beija-flor,
A pinga do meu coité,
Sauna da minha ressaca,
Meu pavê de chocolate,
Bainha da minha faca,
Vedete de minha boate.

Minha ponte de safena,
A festa do meu Fla-Flu,
Meu prêmio da Supersena,
O meu A – E – I – O – U,
Meu talismã, meu patuá,
Minha rosa, cor-de-rosa,
Meu circo, meu mafuá,
A minha pedra preciosa.

Alegria do meu tédio,
Meu voto majoritário,
A bula do meu remédio,
Segredo do meu diário,
Apelo dos meus apelos,
O fim das minhas escolhas,
Sonho dos meus pesadelos,
Meu trevo de quatro folhas.

Minhas férias, meu feriado,
Minha “potranca” gaúcha,
Meu búzios, meu São Conrado,
Minha “paquita” da Xuxa,
Meu pé de jaboticaba,
Minha “musa” de Ipanema,
O meu licor de catuaba,
Minha “Afrodite”, Iracema.

Minha quebra de tabu,
O fecho do meu soneto,
Minha foz, Foz de Iguaçu,
O meu ouro, Ouro Preto,
Meu gomo de mexerica,
Água azul da minha fonte,
Minha rica, Vila-Rica.
Meu belo, Belo Horizonte.

Aplauso dos meus fracassos,
A moto do meu enduro,
Descanso dos meus cansaços,
Meu doce Porto-Seguro,
Nota alegre do meu hino,
Os salmos do meu missal,
Bússola do meu destino,
Minha bola de cristal.

O sol do meu céu aberto,
O refrão dos meus cuidados,
Miragem do meu deserto,
O perdão dos meus pecados,
Alvo dos meus pensamentos,
As cores do meu pincel,
Calmaria em meus tormentos,
A minha Lua-de-mel.

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