Cordel dos Presidenciáveis – Roberto Medeiros (Parte 1)
O meu primeiro contato com a
Literatura, no balcão da padaria do meu avô paterno, foi o Cordel nordestino,
aqueles finos livretos com capas coloridas que adorava ler e reler, sempre à
espera de que surgissem novos títulos para devorá-los. Trata-se, a meu ver, de
arte literária genuína, posto que espontânea, com esquemas rimáticos e métricos
próprios, fruto do imaginário popular. Juntamente com a Trova, é o gênero
poético preferido pela população brasileira, que sabe apreciar o que é simples,
bom e belo. E se hoje a Poesia acha-se distanciada da grande massa, a “culpa” é
do excesso de modernismo e intelectualismo dos “fazedores de versos”, os quais
escrevem de maneira tão fria e hermética, tão rebuscada e ininteligível, que
seus textos são dirigidos apenas a uma insignificante minoria.
Foi considerando o extraordinário
poder de penetração popular desta forma de Poesia, que o Roberto Medeiros
escreveu um livreto intitulado “Literatura de Cordel Sobre os Presidenciáveis
de 1994” ,
usando o pseudônimo de “Zé do Coité – Repentista, / Poeta de botequim, /
Cata-pulgas e analista / De político chinfrim”. Fez algumas cópias e as
distribuiu para os amigos, e as mesmas circularam por toda a parte. Trata-se de
uma crítica mordaz e divertida aos candidatos à Presidência da República nas
Eleições daquele ano. Foram contemplados com versos ferinos: Esperidião Amim,
Leonel Brizola, Enéas, Almirante Fortuna, Lula e Orestes Quércia. Numa segunda
parte, chamada “E os Ex-Futuros-Quase ou ‘Coitos-Interrompidos’ ”, o achincalhe
dirige-se a Antônio Carlos Magalhães e
Paulo Maluf.
Omiti o nome de Fernando Henrique
Cardoso, o qual, como todos sabem, saiu vitorioso nas urnas. Acontece que este
candidato foi o único que mereceu elogios do “Zé do Coité”, devido a razões
políticas, obviamente.
Com o extremo desgaste dos políticos
junto ao povo, cansado de corrupções desenfreadas daqueles que deveriam
representá-los, mas que apenas se importam consigo próprios, traindo os
interesses populares, a leitura dos versos a seguir é extremamente prazerosa,
uma forma sutil de revanche e vingança.
O
livreto era dividido em duas seções. A Primeira Parte chamava-se “Literatura de
Cordel Sobre os Presidenciáveis de 1994” . Em ordem alfabética, haviam sete
candidatos: Amim, Brizola, Enéias, Fernando Henrique, Fortuna, Lula e Quércia.
A Segunda Parte chamava-se “E os Ex-Futuros-Quase ou ‘Coitos-Interrompidos’ ”.
Também em ordem alfabética, estavam ali presentes: A.C.M., Maluf, Queiroz e
Rocha. A todos o Roberto criticou,
elogiando apenas o Fernando Henrique Cardoso, que acabou sendo o sucessor do
Itamar. Tempos depois escrevi uma crítica ao FHC, na mesma forma literária,
considerando o seu péssimo “Governo”. Resultado: não tenho mais os dois textos.
E na cópia xerográfica deste Cordel em meu poder, também não disponho mais dos
dois últimos, Queiroz e Rocha.
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