sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Cordel - Roberto Medeiros (Parte 1)

Cordel dos Presidenciáveis – Roberto Medeiros (Parte 1)
     
         O meu primeiro contato com a Literatura, no balcão da padaria do meu avô paterno, foi o Cordel nordestino, aqueles finos livretos com capas coloridas que adorava ler e reler, sempre à espera de que surgissem novos títulos para devorá-los. Trata-se, a meu ver, de arte literária genuína, posto que espontânea, com esquemas rimáticos e métricos próprios, fruto do imaginário popular. Juntamente com a Trova, é o gênero poético preferido pela população brasileira, que sabe apreciar o que é simples, bom e belo. E se hoje a Poesia acha-se distanciada da grande massa, a “culpa” é do excesso de modernismo e intelectualismo dos “fazedores de versos”, os quais escrevem de maneira tão fria e hermética, tão rebuscada e ininteligível, que seus textos são dirigidos apenas a uma insignificante minoria.
         Foi considerando o extraordinário poder de penetração popular desta forma de Poesia, que o Roberto Medeiros escreveu um livreto intitulado “Literatura de Cordel Sobre os Presidenciáveis de 1994”, usando o pseudônimo de “Zé do Coité – Repentista, / Poeta de botequim, / Cata-pulgas e analista / De político chinfrim”. Fez algumas cópias e as distribuiu para os amigos, e as mesmas circularam por toda a parte. Trata-se de uma crítica mordaz e divertida aos candidatos à Presidência da República nas Eleições daquele ano. Foram contemplados com versos ferinos: Esperidião Amim, Leonel Brizola, Enéas, Almirante Fortuna, Lula e Orestes Quércia. Numa segunda parte, chamada “E os Ex-Futuros-Quase ou ‘Coitos-Interrompidos’ ”, o achincalhe dirige-se a Antônio Carlos Magalhães e  Paulo Maluf.
         Omiti o nome de Fernando Henrique Cardoso, o qual, como todos sabem, saiu vitorioso nas urnas. Acontece que este candidato foi o único que mereceu elogios do “Zé do Coité”, devido a razões políticas, obviamente.
         Com o extremo desgaste dos políticos junto ao povo, cansado de corrupções desenfreadas daqueles que deveriam representá-los, mas que apenas se importam consigo próprios, traindo os interesses populares, a leitura dos versos a seguir é extremamente prazerosa, uma forma sutil de revanche e vingança.
         O livreto era dividido em duas seções. A Primeira Parte chamava-se “Literatura de Cordel Sobre os Presidenciáveis de 1994”. Em ordem alfabética, haviam sete candidatos: Amim, Brizola, Enéias, Fernando Henrique, Fortuna, Lula e Quércia. A Segunda Parte chamava-se “E os Ex-Futuros-Quase ou ‘Coitos-Interrompidos’ ”. Também em ordem alfabética, estavam ali presentes: A.C.M., Maluf, Queiroz e Rocha.  A todos o Roberto criticou, elogiando apenas o Fernando Henrique Cardoso, que acabou sendo o sucessor do Itamar. Tempos depois escrevi uma crítica ao FHC, na mesma forma literária, considerando o seu péssimo “Governo”. Resultado: não tenho mais os dois textos. E na cópia xerográfica deste Cordel em meu poder, também não disponho mais dos dois últimos, Queiroz e Rocha.

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