sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Cordel – Roberto Medeiros (Parte 8)

Excomunga,  Axé,  Excomunga
(Antônio Carlos Magalhães)

Num terreiro de macumba,
Depois de muita quizumba,
Um famoso Pai-de-Santo
Recebeu, com estranheza,
O Toninho Malvadeza
Com mau-olhado e quebranto.

Melífluo e pegajoso,
Esse bode malcheiroso,
Disse que foi convidado
Para ser o Presidente
Deste País-Continente,
Por Collor esmerdalhado.

Queria, porque, queria,
Que os Orixás da Bahia
Dessem toda a proteção
Ao seu delírio – acredite! –
Ao seu voraz apetite,
À sua imensa ambição.

Incorporado o Cambono,
Resmungando de seu trono,
Agarra os chifres do bicho:
- Qual o quê, “seu” A.C.M.,
Uma idéia assim se espreme
Na lata do nosso lixo!...

Então, você não se manca
Das porradas, da retranca
Que sempre impôs a seu povo?
Quer sugar a nossa veia,
Você quer bexiga cheia
Pra nele mijar de novo?!

O povo não é capacho,
Eu vou fazer um despacho
Pondo fim na malvadeza:
- Alguns charutos baianos
Defumando no seu ânus
Pra dar início à limpeza...

Água fétida de côco,
Diarréia de sufoco,
Gosma azeda de cacau...
Um cocô de tico-tico,
A tal morrinha de mico,
Caracas de berimbau.

Dez lamparinas de azeite,
Vinte e dois baldes de leite,
Mariposas de bordéus...
Sangue de xibiu regrado,
Pragas de genro e cunhado,
Tricas-futricas de Ilhéus.

Vatapá, sarapatel,
Chocalho de cascavel,
Ramela de algum malogro,
Acarajés e cuscus,
Bundinhas sujas de puz,
Obrigado, Amigo Sogro.

Que esse tesão, hoje, seque,
Você que é sócio da NEC
E tem cabeça de merda,
Para nos dar um consolo,
Rumine o próprio miolo
Lá, no Eleva-a-dor Lacerda.

E vá, safado Toninho,
Definhar no Pelourinho,
Na areia do Abaeté...
Pois cá no Farol da Barra,
É o próprio mar que lhe escarra
E o povo lhe nega o Axé.

Depois de muito badalo,
Babalorixá, de estalo,
Sabiamente decidiu:
- Se o povo não mais lhe agüenta,
Eu canto a pedra noventa...
Vá pra puta que o pariu!...

Nenhum comentário:

Postar um comentário