Já rumores não há, não há;
calou-se
Tudo. Um silêncio deleitoso e
morno
Vai-se espalhando em torno
Às folhagens tranquilas do pomar.
Torna-se o vento cada vez mais
doce...
Silêncio... Ouve-se apenas o
gemido
De um pequenino pássaro perdido
Que ainda espaneja as suas asas
no ar.
Ouve-me, amiga, este é o
silêncio, o grande
Silêncio feito só de sombra e
calma,
Onde, às vezes, noss′alma,
Penetrada de mágoas e de dor,
Se dilata, se expande,
E seus segredos íntimos
mergulha...
Prolonga-se a mudez: nenhuma
bulha;
Já se não ouve o mínimo rumor.
Esta é a mudez, esta é a mudez
que fala
(Não aos ouvidos, não, porque os
ouvidos
Não conseguem ouvir esses gemidos
Que ela derrama, à noite, sobre
nós)
À alma de quem se embala
Numa saudade mística e
tranquila...
Nossa alma apenas é que pode
ouvi-la
E que consegue perceber-lhe a
voz.
Escuta a queixa tácita e celeste
Que este silêncio fala a ti, tão
triste...
E hás de lembrar o dia em que tu
viste
Perto de ti, pela primeira vez,
Alguém a quem disseste
Uma frase de amor, de amor... ó
louca!
E que, no entanto, só mostrou na
boca
A mais brutal e irônica mudez!
(Esfinges, 1903.)
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