sábado, 12 de dezembro de 2015

De Joelhos - Francisca Júlia

(À Santa Tereza)

Reza de manso... Toda de roxo,
A vista no teto presa,
Como que imita a tristeza
Daquele círio trêmulo e frouxo...

E assim, mostrando todo o desgosto
Que sobre sua alma pesa,
Ela reza, reza, reza,
As mãos erguidas, pálido o rosto...

O rosto pálido, as mãos erguidas,
O olhar choroso e profundo...
Parece estar no Outro-Mundo
De outros mistérios e de outras vidas...

Implora a Cristo, seu Casto Esposo,
Numa prece ou num transporte,
O termo final da Morte,
Para descanso, para repouso...

Salmos doridos, cantos aéreos,
Melodiosos gorjeios
Roçam-lhe os ouvidos, cheios
De misticismos e de mistérios...

Reza de manso, reza de manso,
Implorando ao Casto Esposo
A morte, para repouso,
Para sossego, para descanso

D´alma e do corpo que se consomem,
Num desânimo profundo,
Ante as misérias do Mundo,
Antes as misérias tão baixas do Homem!

Quanta tristeza, quanto desgosto,
Mostra na alma aberta e franca,
Quando fica, branca, branca,
As mãos erguidas, pálido o rosto...

O rosto pálido, as mãos erguidas,
O olhar choroso e profundo,
Parece estar no Outro-Mundo
De outros mistérios e de outras vidas...

(Mármores, 1895.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário