O Poema das Vogais
Pethion de Vilar
(Poeta simbolista brasileiro.)
Ao impecável estilista Remy de
Gourmont
“...................................................voyelles,
“Je direi quelque jour vos
naissances latentes.”
(A. Rimbaud.)
A – branco.
O – preto.
U – roxo.
I – vermelho.
e
E – verde.
Sim, toda vogal tem um aroma e
uma cor,
Que sabemos sentir, que poderemos
ver de
Cima do Verso, de dentro do nosso
Amor.
A
A – deslumbrante alvor; lagoas de
neblina,
Mortas entre bambuais em noites
de luar;
Panejos de albornoz; celagens de
morfina;
Hóstias subindo, lento, entre os
círios do altar.
Neve solta a cair; runimóis do
Himalaia;
Palidez de noivado; asas pandas
de cisne;
Estátuas; colos nus; penumbras de
cambraia;
Pétala de magnólia antes que um
beijo a tisne.
O
O – negrumes do mar; torvas
noites de chuva;
Escuridão dos teus cabelos perfumados;
Gargantas de canhões; compridos
véus de viúva,
Longos dias cruéis dos que não
são amados.
Veludo que reveste a petrina das
moscas,
Dessas que vão pousando em tudo,
sem respeito,
E um dia hão de zumbir, gulosas,
sobre as roscas
Alvas e frias do teu corpo tão
bem feito!
U
U – lúgubres clarões agônicos de
enxofre;
Cor do Mistério; cor das paixões
sem consolo;
Soluço há muito preso, estourando
de chofre;
Último beijo, olhar vesgo e
triste de goulo.
Olheiras de Saudade; olheiras de
Ciúme;
Chagas místicas de S. Francisco
de Assis;
Clangores d’órgão que poeta algum
resume;
Desilusões de amor que nenhum
verso diz.
I
I – púrpuras reais alcachofradas
de ouro;
Rubores virginais; lacre de
bofetadas;
Fanfarras de clarim; alamares do
toro
Onde o carrasco abate as frontes
rebeladas.
Sangue escarrado das bocas
tuberculosas;
Sangue da aurora; orvalho ardente
das batalhas;
Sangue das uvas; sangue aromado
das rosas;
Farrapos de bandeira assanhando
metralhas!
E
E – febre do uíste, cor das
campinas em flor,
Transparências de absinto; alma
da mata virgem;
Cor da Esperança; paz das
vigílias do amor;
Mortalhas, que do mar as glaucas
ondas cirgem.
Hieróglifos que Deus ou o Diabo
escreve
Nas frontes geniais dos Bardos e
dos Sábios;
Espáduas sobre as quais a Morte,
muito em breve,
Voluptuosamente há de colar os
lábios.
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