Todas as cousas têm o aspecto
vago e mudo
Como se as envolvesse uma bruma
de incenso;
No alto, uma nuvem, só, num
nastro largo e extenso,
Precinta do céu calmo a cariz de
veludo.
Tudo: o campo, a montanha, o alto
rochedo agudo
Se esfuma numa suave
água-tinta... e, suspenso,
Espalhando-se no ar, como um
nevoeiro denso,
Um tom neutro de cinza
empoeirando tudo.
Nest′hora, muita vez, sinto um
mole cansaço,
Como que o ar me falta e a força
se me esgota...
Som de Ângelus, moroso, a rolar
pelo espaço...
Neste letargo que, pouco a pouco,
me invade,
Avulta, cresce dentro em mim essa
remota
Sombra da minha Dor e da minha
Saudade.
(Esfinges, 1903.)
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