domingo, 6 de dezembro de 2015

Crepúsculo - Francisca Júlia


Todas as cousas têm o aspecto vago e mudo
Como se as envolvesse uma bruma de incenso;
No alto, uma nuvem, só, num nastro largo e extenso,
Precinta do céu calmo a cariz de veludo.

Tudo: o campo, a montanha, o alto rochedo agudo
Se esfuma numa suave água-tinta... e, suspenso,
Espalhando-se no ar, como um nevoeiro denso,
Um tom neutro de cinza empoeirando tudo.

Nest′hora, muita vez, sinto um mole cansaço,
Como que o ar me falta e a força se me esgota...
Som de Ângelus, moroso, a rolar pelo espaço...

Neste letargo que, pouco a pouco, me invade,
Avulta, cresce dentro em mim essa remota
Sombra da minha Dor e da minha Saudade.

(Esfinges, 1903.)

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