Se nós pensássemos mais
na grande angústia das multidões
andrajosas, tristes e famintas, e
ingeríssemos menos uísque
e vinhos caros das adegas
centenárias;
se nós pensássemos no leite
de que as crianças pobres
necessitam;
se nós promovêssemos menos festas
nas vivendas iluminadas
onde residem o luxo e a falsidade
dos gestos, dos risos e dos
olhares;
se nós pensássemos mais no choro
e nas
dores das parturientes
a estrebucharem nas choças
infectas
onde se não vê um só vestígio
da medicina e do cristianismo;
se nós, antes de irmos às praias,
aos passeios, às aventuras
eróticas,
visitássemos as vilas, os
povoados,
as ruas silenciosas, os bairros
tristes,
as avenidas desumanas, as praças
escuras,
e déssemos apenas parte das
fortunas
perdulariamente gastas, atiradas,
jogadas,
perdidas nas boates de luxo
ou nos bordéis de ínfima
categoria;
se nós sentíssemos a mágoa sem
fim
dos que se diluem nos nosocômios,
e se prostituem por causa da
miséria e da fome;
dos que se decompõem nas celas
psiquiátricas,
dos que morrem à míngua nas
masmorras profundas,
dos que se corrompem nas casas do
vício;
se nós entendêssemos que é CRIME
deseducar com nosso comodismo a
juventude
de todos os quadrantes,
e deixá-la que permaneça
estupidamente
desorientada neste mundo mal
governado,
a pedir escolas e a receber
pauladas,
a pedir conhecimentos e a receber
insultos,
a pedir caminhos certos
e a receber roteiros para o
abismo,
a pedir livros e a receber
coronhadas,
a pedir saúde e a receber
psicotrópicos,
a pedir música e a receber
barulhos,
a pedir carinho e compreensão
e a receber desprezo e injustiça;
Se nós soubéssemos que Deus está
presente
a todos os atos humanos
e a tudo que existe no Universo;
se observássemos e sentíssemos
que a Natureza
é um imenso Evangelho de bondade
e alegria,
de otimismo santo e de trabalho
santo,
de amor, carinho, justiça,
confraternização,
felicidade, religião,
espiritualidade...
Se nós vivêssemos em cada
mendigo,
em cada operário, em cada
meretriz,
em cada sacerdote, em cada
cientista,
em cada empresário, em cada
artista,
se nós vivêssemos, enfim, em cada
homem,
em cada mulher, em cada criança
de quaisquer origem ou posição
social
um IRMÃO, um verdadeiro IRMÃO,
essa grande angústia que avassala
o mundo
e perturba a paz humana
em todos os Continentes,
então começaria a reinar
a Grande Paz do trabalho e da Fraternidade
tão sonhada pelos VERDADEIROS
HOMENS!
(Boletim “Nave”, nº
11, Outubro de 1980 Niterói-RJ, editado por Regina Sylvia Costa Dutra da Silva,
Página 1.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário