quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Rimbaud e a poesia

      De uma fonte da qual não tenho mais como saber a origem, colhi este depoimento de Arthur Rimbaud, extraído de uma carta do jovem poeta francês endereçada a seu professor, datada de 13 de maio de 1871:

      “Afirmo que é preciso ser vidente, fazer-se vidente. O Poeta se faz vidente por meio de um longo, imenso e racional desregramento de todos os sentidos. Todas as formas de amor, de sofrimento, de loucura; buscar a si, esgotar em si mesmo todos os venenos, a fim de só reter a quintessência. Inefável tortura para a qual se necessita toda a fé, toda a força sobre-humana, e pela qual o poeta se torna o grande enfermo, o grande criminoso, o grande maldito, - e o Sabedor Supremo! – pois alcança o Insabido. (...) Logo, o poeta é um verdadeiro roubador de fogo. Responde pela humanidade e até pelos animais; deveria fazer com que suas invenções fossem cheiradas, ouvidas, palpadas; se o que transmite do fundo possui forma, dá-lhe a forma; se é informe, deixa-o informe. Achar uma língua; afinal, como toda palavra é ideia, a linguagem universal há de chegar um dia. (...) Essa língua será da alma para a alma, resumirá tudo: perfume, seres, sons: pensamento que se engata a um pensamento e o puxa para fora. O poeta seria o indicador da quantidade de desconhecido despertada em seu tempo na alma universal; daria mais: a fórmula de seu pensamento, a anotação de seu avanço no futuro! Enormidade se fazendo norma, absorvida por todos, ele seria verdadeiramente um multiplicador de progresso!”

      O texto a seguir é do livro “Viagens Para Além do Conhecido, de Serge Hutin:

      “Conhecemos a famosa carta endereçada pelo jovem Rimbaud, no dia 13 de maio de 1871, a seu professor do último ano de colégio de Charle-ville, Georges Izambard:
      ‘No momento, avilto-me o mais possível. Por quê? Quero ser poeta e trabalho para me tornar vidente (...) Trata-se de chegar ao desconhecido pelo desregramento de todos os sentidos. Os sofrimentos são enormes, mas é preciso ser forte, ter nascido poeta, e eu me reconheci poeta. Não é minha culpa. É falso dizer: Eu penso. Dever-se-ia dizer: Pensam-me. Perdão pelo jogo de palavras. Eu é um outro. Tanto pior para a madeira que se vê violino, e desdém para os inconscientes, que papagueiam sobre o que ignoram totalmente!’
     Programa taumatúrgico que nos é explicado numa outra missiva, dirigida a seu amigo Paul Demeny (Charville, 15 de maio de 1871):
         ‘Digo que é preciso ser vidente, fazer-se vidente. O poeta se faz vidente através de um longo, imenso e racional desregramento de todos os sentidos. Todas as formas de amor, de sofrimento, de loucura; ele procura a si mesmo, esgota em si todos os venenos, para só guardar deles as quintessências (...). Ele chega ao desconhecido, e quando, enlouquecido, acabar por perder a compreensão de suas visões, ele as viu! (...) Esta língua será da alma para a alma, resumindo tudo, perfumes, sons, cores, do pensamento obtendo e adquirindo o pensamento. O poeta definirá a quantidade de desconhecido despertando em seu tempo na alma universal: dará mais do que a fórmula do seu pensamento — que a notação de sua marcha para o Progresso! Enormidade tornando-se norma absolvida por todos, ele será realmente um multiplicador de progresso!’ ”

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