De uma fonte da qual não tenho mais como
saber a origem, colhi este depoimento de Arthur Rimbaud, extraído de uma carta
do jovem poeta francês endereçada a seu professor, datada de 13 de maio de
1871:
“Afirmo que é preciso ser vidente,
fazer-se vidente. O Poeta se faz vidente por meio de um longo, imenso e
racional desregramento de todos os sentidos. Todas as formas de amor, de
sofrimento, de loucura; buscar a si, esgotar em si mesmo todos os venenos, a
fim de só reter a quintessência. Inefável tortura para a qual se necessita toda
a fé, toda a força sobre-humana, e pela qual o poeta se torna o grande enfermo,
o grande criminoso, o grande maldito, - e o Sabedor Supremo! – pois alcança o
Insabido. (...) Logo, o poeta é um verdadeiro roubador de fogo. Responde pela
humanidade e até pelos animais; deveria fazer com que suas invenções fossem
cheiradas, ouvidas, palpadas; se o que transmite do fundo possui forma, dá-lhe
a forma; se é informe, deixa-o informe. Achar uma língua; afinal, como toda
palavra é ideia, a linguagem universal há de chegar um dia. (...) Essa língua
será da alma para a alma, resumirá tudo: perfume, seres, sons: pensamento que
se engata a um pensamento e o puxa para fora. O poeta seria o indicador da
quantidade de desconhecido despertada em seu tempo na alma universal; daria
mais: a fórmula de seu pensamento, a anotação de seu avanço no futuro!
Enormidade se fazendo norma, absorvida por todos, ele seria verdadeiramente um
multiplicador de progresso!”
O texto a seguir é do livro “Viagens Para
Além do Conhecido, de Serge Hutin:
“Conhecemos a famosa carta endereçada
pelo jovem Rimbaud, no dia 13 de maio de 1871, a seu professor do último ano de
colégio de Charle-ville, Georges Izambard:
‘No momento, avilto-me o mais possível.
Por quê? Quero ser poeta e trabalho para me tornar vidente (...) Trata-se de
chegar ao desconhecido pelo desregramento de todos os sentidos. Os sofrimentos
são enormes, mas é preciso ser forte, ter nascido poeta, e eu me reconheci
poeta. Não é minha culpa. É falso dizer: Eu penso. Dever-se-ia dizer:
Pensam-me. Perdão pelo jogo de palavras. Eu é um outro. Tanto pior para a
madeira que se vê violino, e desdém para os inconscientes, que papagueiam sobre
o que ignoram totalmente!’
Programa taumatúrgico que nos é explicado
numa outra missiva, dirigida a seu amigo Paul Demeny (Charville, 15 de maio de
1871):
‘Digo que é preciso ser vidente,
fazer-se vidente. O poeta se faz vidente através de um longo, imenso e racional
desregramento de todos os sentidos. Todas as formas de amor, de sofrimento, de
loucura; ele procura a si mesmo, esgota em si todos os venenos, para só guardar
deles as quintessências (...). Ele chega ao desconhecido, e quando,
enlouquecido, acabar por perder a compreensão de suas visões, ele as viu! (...)
Esta língua será da alma para a alma, resumindo tudo, perfumes, sons, cores, do
pensamento obtendo e adquirindo o pensamento. O poeta definirá a quantidade de
desconhecido despertando em seu tempo na alma universal: dará mais do que a
fórmula do seu pensamento — que a notação de sua marcha para o Progresso!
Enormidade tornando-se norma absolvida por todos, ele será realmente um
multiplicador de progresso!’ ”
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