A Defesa de um
Pedófilo - 1
“Senhoras e senhores membros do júri,
quase todos os pervertidos sexuais que anseiam por uma latejante relação com
alguma menininha (sem dúvida pontuada de ternos gemidos, mas não chegando
necessariamente ao coito) são seres inofensivos, inadequados, passivos e
tímidos, que apenas pedem à comunidade que lhes permita entregar-se a seu
comportamento supostamente aberrante mas praticamente inócuo, que lhes deixe
executar seus pequenos, úmidos e sombrios atos privados de desvio sexual sem
que a polícia e a sociedade os persigam. Não somos tarados! Não cometemos
estupros, como o fazem muitos bravos guerreiros! Somos seres infelizes, meigos,
de olhar canino, suficientemente bem integrados para saber controlar nossos
impulsos na presença de adultos, mas prontos a trocar anos e anos de vida pela
oportunidade de acariciar uma ninfeta.” (Páginas 89-90.)
A Defesa de um
Pedófilo - 2
“Ah, leitor, não me olhe com esse ar
zangado, de modo algum quero dar a impressão de que não fui feliz. O leitor
precisa entender que, como senhor e servo de uma ninfeta, o viajante encantado se
encontra, por assim dizer, além da
felicidade. Pois que não há na terra prazer que se compare ao de acarinhar
uma ninfeta. É hors-concours esse prazer, pertence a outra classe, a outra
esfera de sensibilidade. Apesar de nossas brigas, apesar de sua má-criação,
apesar das exigências e caretas que ela fazia, sem falar na vulgaridade, no
perigo e na horrível desesperança de tudo aquilo, eu ainda residia no paraíso
de minha escolha, um paraíso cujo céu tinha a cor das chamas do inferno, mas
ainda assim um paraíso.” (Página 169)
A Defesa de um
Pedófilo – 3
“Havia naquele ígneo fantasma uma
perfeição que também fazia perfeita minha selvagem volúpia, exatamente porque a
visão estava fora de alcance, sem qualquer possibilidade de ser atingida e
corrompida pela consciência de um tabu inarredável: na verdade, a atração que a
imaturidade exerce sobre mim talvez resida não tanto na limpidez da beleza pura
e proibida de uma menina encantada, como na segurança de uma situação em que
infinitas perfeições preenchem o abismo entre o pouco que é dado e o muito que
é prometido – os picos cinzentos e rosados do inatingível.” (Página 267)
(“Lolita”, Vladimir Nabokov, Biblioteca O
Globo, Rio de Janeiro: O Globo, São Paulo: Folha de São Paulo, 2003.)
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