domingo, 25 de outubro de 2015

"Lolita" - Vladimir Nabokov

A Defesa de um Pedófilo - 1

      “Senhoras e senhores membros do júri, quase todos os pervertidos sexuais que anseiam por uma latejante relação com alguma menininha (sem dúvida pontuada de ternos gemidos, mas não chegando necessariamente ao coito) são seres inofensivos, inadequados, passivos e tímidos, que apenas pedem à comunidade que lhes permita entregar-se a seu comportamento supostamente aberrante mas praticamente inócuo, que lhes deixe executar seus pequenos, úmidos e sombrios atos privados de desvio sexual sem que a polícia e a sociedade os persigam. Não somos tarados! Não cometemos estupros, como o fazem muitos bravos guerreiros! Somos seres infelizes, meigos, de olhar canino, suficientemente bem integrados para saber controlar nossos impulsos na presença de adultos, mas prontos a trocar anos e anos de vida pela oportunidade de acariciar uma ninfeta.” (Páginas 89-90.)


A Defesa de um Pedófilo - 2


      “Ah, leitor, não me olhe com esse ar zangado, de modo algum quero dar a impressão de que não fui feliz. O leitor precisa entender que, como senhor e servo de uma ninfeta, o viajante encantado se encontra, por assim dizer, além da felicidade. Pois que não há na terra prazer que se compare ao de acarinhar uma ninfeta. É hors-concours esse prazer, pertence a outra classe, a outra esfera de sensibilidade. Apesar de nossas brigas, apesar de sua má-criação, apesar das exigências e caretas que ela fazia, sem falar na vulgaridade, no perigo e na horrível desesperança de tudo aquilo, eu ainda residia no paraíso de minha escolha, um paraíso cujo céu tinha a cor das chamas do inferno, mas ainda assim um paraíso.” (Página 169)


A Defesa de um Pedófilo – 3

      “Havia naquele ígneo fantasma uma perfeição que também fazia perfeita minha selvagem volúpia, exatamente porque a visão estava fora de alcance, sem qualquer possibilidade de ser atingida e corrompida pela consciência de um tabu inarredável: na verdade, a atração que a imaturidade exerce sobre mim talvez resida não tanto na limpidez da beleza pura e proibida de uma menina encantada, como na segurança de uma situação em que infinitas perfeições preenchem o abismo entre o pouco que é dado e o muito que é prometido – os picos cinzentos e rosados do inatingível.” (Página 267)


      (“Lolita”, Vladimir Nabokov, Biblioteca O Globo, Rio de Janeiro: O Globo, São Paulo: Folha de São Paulo, 2003.)

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