quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Soneto Escatológico - Glauco Mattoso

      SONETO ESCATOLÓGICO

      “Cagando estava a dama mais formosa...”
      Assim falou Bocage num soneto
      do mesmo naipe deste que cometo
      sobre a reputação que a merda goza.

      A crítica a compara à rara rosa
      se obrada na miséria dalgum gueto.
      Políticos proferem-na: “Eu prometo...”
      e a mídia a tematiza em verso e prosa.

      É tanto incompetente apadrinhado
      fazendo merda e sendo promovido
      que, quando comecei o aprendizado,

      pensei: “Que seja próprio o seu sentido,
      porque já me enojei do figurado!”
      E então fui rei da merda com que agrido.

(“Centopeia – Sonetos Nojentos & Quejandos”, Glauco Mattoso, Edições Ciência do Acidente, São Paulo, 1999, Soneto Nº 2.72”)

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