SONETO ESCATOLÓGICO
“Cagando estava a dama mais formosa...”
Assim falou Bocage num soneto
do mesmo naipe deste que cometo
sobre a reputação que a merda goza.
A crítica a compara à rara rosa
se obrada na miséria dalgum gueto.
Políticos proferem-na: “Eu prometo...”
e a mídia a tematiza em verso e prosa.
É tanto incompetente apadrinhado
fazendo merda e sendo promovido
que, quando comecei o aprendizado,
pensei: “Que seja próprio o seu sentido,
porque já me enojei do figurado!”
E então fui rei da merda com que agrido.
(“Centopeia – Sonetos
Nojentos & Quejandos”, Glauco Mattoso, Edições Ciência do Acidente, São
Paulo, 1999, Soneto Nº 2.72”)
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