“S.
PEDRO
(pensando)
Não é, como eu pensava, um dementado!
Desde o princípio que eu desconfiei!
(alto)
Eu não me lembro de ter vindo aqui
um’alma, em desmantelo, como a tua!
Eu quero ver somente onde é que chega
o teu filosofismo!... Continua.
Boêmio
Agora, eu vou expor a diferença
entre os dois corações: - o feminino,
e o mais forte, o valente, o masculino.
A diferença é grande! É transcendente!
S. PEDRO
Ouvi-lo-ei, se expuser, imparcialmente.
Boêmio
Sem que o vigor do amor elas lhe domem,
um homem pode amar a mil mulheres,
mas a mulher só pode amar um homem.
O homem tem um coração tão grande,
que é capaz de conter as águas todas,
que o mar por toda a vastidão expande.
O da mulher, porém, é tão pequeno,
tão mimoso, tão leve e tão escasso,
que pode enchê-lo um pingo de sereno.
No coração do homem tudo medra!
O mais mole é mais duro que uma pedra!
O da mulher, Senhor, é tão sensível,
que não pode sofrer nenhum abalo!
É tão sutil, tão leve e tão mimoso,
que um suspiro da flor pode quebrá-lo.”
(“Um Boêmio no Céu”,
Catullo da Paixão Cearense, Livraria Império Editora, Rio de Janeiro, 1966, 8ª
Edição, Páginas 40-41.)
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