segunda-feira, 26 de outubro de 2015

“Um Boêmio no Céu” - Catullo da Paixão Cearense

      “S. PEDRO
      (pensando)
      Não é, como eu pensava, um dementado!
      Desde o princípio que eu desconfiei!
      (alto)
      Eu não me lembro de ter vindo aqui
      um’alma, em desmantelo, como a tua!
      Eu quero ver somente onde é que chega
      o teu filosofismo!... Continua.
      Boêmio
      Agora, eu vou expor a diferença
      entre os dois corações: - o feminino,
      e o mais forte, o valente, o masculino.
      A diferença é grande! É transcendente!
      S. PEDRO
      Ouvi-lo-ei, se expuser, imparcialmente.
      Boêmio
      Sem que o vigor do amor elas lhe domem,
      um homem pode amar a mil mulheres,
      mas a mulher só pode amar um homem.
      O homem tem um coração tão grande,
      que é capaz de conter as águas todas,
      que o mar por toda a vastidão expande.
      O da mulher, porém, é tão pequeno,
      tão mimoso, tão leve e tão escasso,
      que pode enchê-lo um pingo de sereno.
      No coração do homem tudo medra!
      O mais mole é mais duro que uma pedra!
      O da mulher, Senhor, é tão sensível,
      que não pode sofrer nenhum abalo!
      É tão sutil, tão leve e tão mimoso,
      que um suspiro da flor pode quebrá-lo.”

(“Um Boêmio no Céu”, Catullo da Paixão Cearense, Livraria Império Editora, Rio de Janeiro, 1966, 8ª Edição, Páginas 40-41.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário