Mãos
Há
mãos que fazem medo
Feias agregações pentagonais,
Umas, em sangue, a delinquentes
natos,
Assinalados pelo mancinismo,
Pertencentes talvez...
Outras, negras, a farpas de
rochedo
Completamente iguais...
Mãos de linhas análogas e
anfratos
Que a Natureza onicriadora fez
Em contraposição e antagonismo
Às da estrela, às da neve, ás dos
cristais.
Mãos que adquiriram olhos,
pituitárias
Olfativas, tentáculos sutis,
E à noite, vão cheirar, quebrando
portas
O azul gasofiláceo silencioso
Dos tálamos cristãos.
Mãos adúlteras, mãos mais
sanguinárias
E estupradoras do que os bisturis
Cortando a carne em flor das
crianças mortas.
Monstruosíssimas mãos,
Que apalpam e olham com lascívia
e gozo
A pureza dos corpos infantis.
(“Eu & Outras
Poesias”, Augusto dos Anjos, Editora Civilização Brasileira S.A., Rio de
Janeiro, Livraria Itatiaia Ltda., Belo Horizonte, 2º Volume, 1982, Página 60.)
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