sexta-feira, 30 de outubro de 2015

"Tartufo - O Doente Imaginário" - Molière

“Nada vejo também que seja mais odioso
Que a máscara infiel de um zelo especioso –
Perfeitos charlatães, carolas de banquete
Que da crença no céu só têm o cacoete;
Zombam impunemente, abusam sem cuidado
Daquilo que há em nós de mais limpo e sagrado;
Almas que ao interesse aceitam submissão,
Fazem da própria fé negócio de balcão
E procuram comprar dignidade e conceito
Com olhares no chão e pancadas no peito,
Pessoas de um fervor que nos causa estranheza,
Que ao correr para Deus vão atrás da riqueza,
Hábeis ao ajustar a devoção ao vício,
Vingativas, sem fé, repletas de artifício;
Que para condenar encobrem toda a vida
Com o desejo do céu a vaidade ferida;
De tal modo brutais no seu ódio boçal
Que usam armas do bem na prática do mal.
E neles a paixão raivosa que os domina
Com o ferro mais sagrado é que nos assassina.”

(“Tartufo – O Doente Imaginário”, Molière, tradução e adaptação de Guilherme Figueiredo, Editora Civilização Brasileira S.A., Instituto Nacional do Livro, Rio de Janeiro, 1975, fala de Cleanto, Cena VI, Primeiro Ato, “Tartufo”, Páginas 20-21.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário