“Nada vejo também que seja mais
odioso
Que a máscara infiel de um zelo
especioso –
Perfeitos charlatães, carolas de
banquete
Que da crença no céu só têm o
cacoete;
Zombam impunemente, abusam sem
cuidado
Daquilo que há em nós de mais
limpo e sagrado;
Almas que ao interesse aceitam
submissão,
Fazem da própria fé negócio de
balcão
E procuram comprar dignidade e
conceito
Com olhares no chão e pancadas no
peito,
Pessoas de um fervor que nos
causa estranheza,
Que ao correr para Deus vão atrás
da riqueza,
Hábeis ao ajustar a devoção ao
vício,
Vingativas, sem fé, repletas de
artifício;
Que para condenar encobrem toda a
vida
Com o desejo do céu a vaidade
ferida;
De tal modo brutais no seu ódio
boçal
Que usam armas do bem na prática
do mal.
E neles a paixão raivosa que os
domina
Com o ferro mais sagrado é que
nos assassina.”
(“Tartufo – O Doente
Imaginário”, Molière, tradução e adaptação de Guilherme Figueiredo, Editora
Civilização Brasileira S.A., Instituto Nacional do Livro, Rio de Janeiro, 1975,
fala de Cleanto, Cena VI, Primeiro Ato, “Tartufo”, Páginas 20-21.)
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